Nos tempos das redes
fui lançada ao mar
sem saber nadar.
Fiquei presa nas fibras invisíveis,
quis fugir do encanto,
mas já estava enredada
nos teus feitiços.
Delgada foi a porção da magia
que chamaste de amor.
Uma dose mínima,
suficiente para me embriagar.
Sem perceber,
caí na rede de cerco,
na linha do tempo,
capturada num gesto,
num clique.
Perdi a noção do risco.
Fui fisgada pela boca,
como peixe em noite de lua cheia,
quando o mar prateia
e o sol ainda se esconde
no limite do horizonte.
Sem perceber,
abri múltiplas portas,
criei caminhos falsos
para alcançar teu rastro.
Esqueci que eu era sereia.
Caí na tua rede
longe dos teus olhos,
que me seguem sem me ver.
Onde quer que eu vá,
sinto tua vibração:
uma rede de arrasto
envolvendo corpo e mente.
Sinto o cheiro do mar,
do pescador,
escuto tua voz
em cada sinal.
Estou presa.
Procuro teu rosto na tela,
teu vestígio ativo,
teus traços espalhados
em superfícies luminosas.
Essa paixão me desestabiliza:
perdi o chão,
perdi a razão.
Viciei em te encontrar
num mundo que não me toca.
Perco minutos, horas, dias
nessa emboscada silenciosa.
Abro mensagens
esperando teu nome.
Acendo a espera
por um sinal teu.
Sei que estás presente,
em algum lugar do fluxo,
e retorno sempre
às tuas palavras.
Leio teus rastros
como quem lê oráculos.
E faço o pior:
crio máscaras
para te vigiar.
Morro de ciúmes
de presenças alheias,
de vozes que se aproximam,
de vidas que te alcançam.
Teu espaço virou meu labirinto.
Leio cada gesto,
cada silêncio,
cada ausência.
Me entreguei.
Nos tempos das redes,
fui lançada ao mar
sem saber nadar.
autora: Isabel van Gurp