sábado, 29 de setembro de 2012

Fugir de Mim






Fugir de mim,
fingir por ti,
sofri por nós.

No meu olhar
existem palavras
que eu não posso te dizer.

No meu gesto
há uma expressão
que eu gostaria de confessar.

Na minha saudade
vivem instantes que não vivi,
histórias que não contei,
momentos que não compartilhei,
desejos que calei
dentro de mim.

No meu coração
existe um amor
que eu não posso te entregar.

Fugir de mim,
fingir por ti,
sofri por nós.

No meu contemplar
há lágrimas
que nunca foram derramadas.

Nos meus lábios
um frase que não foi dita,
uma história que não encontrou voz.

Nos meus braços
mora um calor
que eu desentranhei.

Na minha alma
há um gozo
que eu nunca dividi.

Na minha cama
um prazer adormecido,
um sussurro que nunca fiz nascer.

Fugir de mim,
fingir por ti,
sofri por nós.

No meu destino
houve um caminho
que eu mesma desviei.

Na minha vida
restou a insatisfação
de não ter vivido
aquele olhar,
aquela palavra,
aquele momento,
aquele gozo,
aquele gesto,
aquele amor.

Enfim,
perdi.

Fugir de mim,
fingir por ti,
sofri por nós.



Autora: Isabel van Gurp























































terça-feira, 18 de setembro de 2012

Minha Senhora




 


Perdoa-me, minha senhora,
terei que partir agora.
Deixo-te as nossas lembranças,
as nossas fotos,
já desbotadas pelo tempo,
mas ainda vivas
na história que fomos.

História de uma vida
guardada nas dobras da memória.

Perdoa-me, minha senhora,
eu parto em desalento.
Sofro por te deixar.
Lutei todos os minutos
para ficar.

Perdoa-me, minha senhora,
eu parto em silêncio sagrado.
Lutei em cada segundo
para permanecer ao teu lado.
Mas há chamados que não se recusam,
portais que só a alma atravessa,
e a vida, quando vira prece,
também se despe da matéria espessa.

Escolhi ficar perto de ti,
mesmo depois do véu.
Será meu corpo na terra,
mas meu sopro… seguirá no céu.

Talvez eu esteja no vento
que move tuas cortinas,
no perfume das rosas
que ainda levarás à minha campina.
As mesmas rosas do nosso amor,
que floresciam no riso e na dor.

Será somente o meu corpo
que descansará.
Minha alma…
não sei onde estará.
Mas esperarei tuas visitas
no meu silêncio,
talvez com rosas
as mesmas rosas
que te levei por tantos anos
para enfeitar a nossa vida
e que agora trarás
para enfeitar o meu repouso,
o meu sono eterno.
(Assim creio…
mas pouco sei dessa viagem.)

Perdoa-me, minha senhora,
eu estava cansado demais
para te dizer adeus.
Preferia não dizer adeus.

Não quis partir antes de ti,
mas os tempos não pedem permissão.
E amar também é aceitar
o compasso invisível da criação.
não suportaria teu sofrimento,
nem o teu isolamento,
pois não estarei por perto
para te abraçar,
nem para enxugar tuas lágrimas
como sempre fiz,
nem para te dar conforto
nos meus braços.

Minha senhora,
eu não queria partir,
não queria ir antes de ti.
Não posso te pedir
para irmos juntos
seria egoísmo.
Mas tampouco queria te abandonar.

Perdoa-me,
minha senhora,
não te renego,
não te esqueço.

Vou para além,
não sei para onde.
Talvez esteja em algum lugar
entre o tempo e o infinito.
Mas crê:
eu te esperarei para sempre,
minha senhora.


  autora: Isabel van Gurp