sábado, 1 de dezembro de 2012

Contra Maré



Contra Maré


O pôr do sol em Breda









Aprendi a nadar na solidão,
no vasto mar que mora em mim.
Entre ondas de perda e escuridão,
lutei contra o início e contra o fim.

Nadei contra a maré feroz,
ou deixei a vida me carregar.
E mesmo quando o medo fez sua voz,
eu segui firme, sem parar.

Desnuda ao vento, ao sal, ao frio,
deixei o sol queimar minha ferida.
O mar que arranca, quebra, partiu,
mas me devolveu a minha vida.

As pedras duras do meu chão
cortaram a alma, pele e calma.
Sangrei por dentro, no coração,
mas cada dor fez nova palma.

Chorei sem lágrima cair,
gritei sem som e sem ouvir.
Perdi por medo de seguir,
venci por não querer fugir.

Mergulhei fundo no meu ser,
nas águas negras do pensar.
Pensei morrer, pensei ceder,
mas algo em mim disse: voltar.

E quis deitar na areia fina,
ficar ali, porto seguro.
Mas a vida é onda que ensina
que o oceano exige o futuro.

Meu lugar não era o começo,
nem a beira rasa do mar.
Meu destino era o recomeço,
era a correnteza enfrentar.

Aprendi no maremoto escuro,
no céu sem lua, em chão sem luz.
Com estrelas fiz meu muro,
com elas guiei minha própria cruz.

Quando minha força se esvaía
eu virava sereia no fundo do mar.
Subia à tona, renascia
só para o novo sol tocar.

E foi na noite mais perdida,
na luta bruta do respirar,
que eu descobri que a própria vida
me ensinava a nadar.

Hoje sou rocha, estrela, chama,
sou mar inteiro a me guiar.
Do mundo recebi a lama,
mas aprendi: posso flutuar.

E mesmo sem água por perto,
em terra seca, ar ou luar,
com peito aberto e sonho certo,
a vida me fez… saber nadar.


Autora: Isabel van Gurp




  autora: Isabel van Gurp