Fugi de mim,
abandonei minha própria sombra,
só para não te perder.
Fingi por ti,
para que teus olhos não vissem
o abismo que crescia em mim.
Sofri por nós,
por tudo que não fomos,
e por tudo que ainda doía
no silêncio que eu carregava.
No meu olhar
moravam palavras sufocadas,
presas na garganta da alma,
pedindo para existir.
No meu peito
havia um tremor constante,
um pedido, um grito,
um amor desesperado
proibido de nascer.
Na minha saudade
repousavam lembranças inventadas,
dias que nunca vivi,
abraços que só imaginei,
beijos que ficaram no limite do sonho.
Perdi-me no vazio
de tudo que desejei e calei.
No meu corpo,
um calor que nunca ofereci.
Na minha alma,
um gozo morto
antes mesmo de ser sentido.
Meus braços, vazios;
minha cama, silenciosa;
minhas noites, sem perdão.
Eu fugi de mim
para te preservar.
Eu fingi por ti
para não desmoronar.
Eu sofri por nós
como quem morre um pouco a cada dia.
E hoje carrego o peso
do que não vivi.
Um amor abortado pelo medo,
um caminho que desviei com as próprias mãos.
A verdade?
Não foi você que perdi.
Fui eu.
Fugir de mim,
fingir por ti,
sofrer por nós—
foi a forma mais lenta
e mais cruel
de morrer vivendo.
Autora: Isabel van Gurp




