quarta-feira, 24 de abril de 2013

Filhas da Terra

Filha da Terra

Filhas da terra,
do sol,
do mar,
nem só d’água,
nem só da areia.

Sempre eu.
Somos nós.
De onde vem a vida?
Vem de ti,
do ventre,
de mim.

Sou filha do ar.
Cresço com o brilho do sol,
sou regada pela chuva
que pinta o céu.

E nas minhas mãos,
no toque da raiz,
nasce mais uma vida.

Nem mesmo os espinhos
das rosas
me afastam delas.
Por elas, sento no jardim
para vê-las crescer.

Dentro de mim,
sinto o perfume
que exala do orvalho,
que penetra minha pele
e me faz lembrar
que sou filha da terra,
do sol,
do mar,
da água,
da areia.

Sou filha de ti.
Sou filha de nós.
Sou filha da natureza.



  autora: Isabel van Gurp




terça-feira, 9 de abril de 2013

Abrem-se as janelas








Abrem-se as janelas

O sol que brilha na minha terra
nasce atrás do horizonte,
nas águas claras desperta,
desenhando morros, pontes.

Colorindo as favelas com suas cores 
vermelhas, amarelas, alaranjadas 
vem aos poucos, alastra o céu,
subindo ao altar como um deus,
dourando o oceano,
avermelhando o azul do mar.

Nasce do ventre das ondas,
como um deus que ressurge em chama,
faz do horizonte um altar
onde o mundo inteiro se inflama.

Pinta as águas de cobre e laranja,
derrama fogo nas serras,
e cada raio que avança
é reza viva sobre a terra.

Abrem-se as janelas

O sol da minha terra não nasce, desperta.
Abre os olhos do dia com dedos de ouro,
espalha sobre os morros sua manta aberta,
escorre pelas vielas,
doura os telhados tortos.

Aos poucos conquista os morros
com suas cores alaranjadas,
espiritualiza o verde dos matos,
alegra os pássaros 
que cantam, assobiam,
dão vida à atmosfera,
aquecem a terra.

Invade com seus raios
as frestas das janelas,
alastrando-se pelas ruas da minha cidade.
Desce leve, passa rente,
bate forte no peito da gente.

No brilho da lata, no trem, no sinal,
há poesia em cada quintal.
Quem ainda dorme,
com seus pecados, fome e segredos,
foge da luz 
mas o sol rasga a neblina
e renasce, altivo e inteiro.

O sol que brilha na minha terra
acorda o moleque do lado da laje,
a mãe solo no barraco,
espalha clarão nas calçadas da feira.

Ele não nasce quadrado,
não teme a sombra,
ri das nuvens que o desafiam,
atravessa a tempestade,
cria arco-íris de alegria.

O sol do meu Rio é marrento, esperto,
bate de frente, não foge ao perigo,
ignora a fumaça, rasga as cinzas,
faz da chuva um samba bonito.

Não conhece o tédio,
nem se prende ao relógio:
nasce sempre que um sorriso
vence o medo e quebra o ódio.

O sol da minha terra tem alma,
fala a língua da esperança,
anda descalço nas ruas,
brinca de luz com as crianças.

Invade os becos, brinca de rei,
faz da miséria um bloco, um desfile, uma lei.
Nos barracos renasce em cada sorriso 
porque o sol do meu Rio é puro improviso.

E quando o dia se despede,
com o peito vermelho no mar,
ele se curva sobre o morro,
escuta os aplausos,
e aos poucos se derrete
atrás dos morros 
para, em silêncio,
voltar a brilhar.

Fecham-se as janelas


  autora: Isabel van Gurp