domingo, 12 de janeiro de 2014

Eu Já Senti Isso Antes





Olhando para o teu olhar,
sinto teus passos
caminhando em algum lugar.

Ouvindo tua voz,
escuto-a no túnel do tempo 
tão familiar,
como um eco antigo
que desperta em mim.

Eu já senti isso antes.
Eu sei disso.

Tuas mãos tocam meu corpo,
reconheço o gesto,
a ternura antiga,
gravada na minha alma.

Eu já senti isso antes.
Eu sei disso.

Tive a certeza
quando encostei minha cabeça
no teu coração —
ouvi as batidas em código morse,
as mesmas que um dia,
em outra vida,
me chamaram pelo nome.

O mesmo sinal de disparo
que acende quando nossos olhares se cruzam.

Senti teu calor,
teu manto sagrado,
teu amor que envolve e acalma.

Somos afinidades em espiral,
somos almas gêmeas
que nunca se perdem 
mesmo quando se vão,
se reencontram,
mesmo quando se afastam,
se chamam de volta.

Eu já senti isso antes.
Eu sei disso.

Quando te vi pela primeira vez,
nesta vida,
houve magia no ar.
Não pude desviar os olhos,
e cada vez que te olhava,
vinham lembranças
de um lugar que já foi nosso,
de uma história antiga,
de uma felicidade sem tempo.

Em frações de segundo,
o passado voltou
com a mesma faísca,
a mesma força,
o mesmo toque nas mãos.

E na linha do destino,
viemos nós 
completar a história inacabada,
ser o que sempre fomos:
felizes,
eternos,
um só ser em dois corpos.

Eu já senti isso antes.
Eu sei disso.

Como eu sei
que entre a terra, o céu e o mar,
me escondo no infinito 
só para te encontrar.


                                      autora: Isabel van Gurp









                                                                                                            





















terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Entre o céu e a terra

Entre o céu e a Terra

Sem Asa

Nada nos dias
diferente do que eram,
do que ficam,
do que vêm,
do que foram.

                             **Sem asa.**  


Os espíritos me levam para as montanhas,
fazem-me sonhar.
Em cada sonho vivem as entidades
que voam pelo azul do céu,
forradas por um tapete branco,
cobertas por um véu
de nuvens.

Nos alpes,
na busca das estrelas,
em cada cume vivem almas
se encontram em paz,
se enlevam,
se acalmam.

                             **Com asa.**  


Vivo entre o céu e a terra,
caminho pela neve branca e cintilante.
Mas meus pensamentos são como brasas,
escaldam minha paz.
Voam... voam...

São as pedras cinzas, lisas,
maduras, escaldantes.
Os espíritos passam sobre mim
como gaviões que levam gente
para um lugar bem distante.

Penso em Ngama,
Deus africano,
e no meu reencontro comigo mesma.
Em silêncio, pergunto à minha identidade:
de onde eu vim?
quem sou eu?
por que parti,
por que voei para longe
sem asa?

Desencontrei Awa,
quando pensei que ela morava em mim.
Nunca encontrei o habitat,
minha deusa ficou em altares distantes,
longe... bem longe...

Minha alma buscou o espírito da terra.
E o sol, em resposta,
disse-me:
"Voaste nas asas do vento,
levada por alguma pena.
Mergulhas em ti,
na calma negra das aves,
para ver o sol nascente
do mais alto nível da terra."

Eu voo sempre,
todas as noites,
para buscar em mim
um lar,
uma saudade que nunca me abandona,
um lugar que nunca esqueço
e padeço sem saber o porquê.

Nada dos dias
diferente do que eram,
do que ficam,
do que vêm,
do que foram.

Eu sempre voo nas noites.
Sinto o cheiro do mato,
o calor que queima minha pele,
ouço murmúrios dos selvagens,
sem asas que voam,
à procura da alma.

Encontro o pássaro
que me lançou aos altos;
meu corpo deixou cair,
numa queda sem fim...

                             **Devo dizer: sem mim.** 




autora: Isabel van Gurp