Sem Asa
Nada nos dias
diferente do que eram,
do que ficam,
do que vêm,
do que foram.
**Sem asa.**
Os espíritos me levam para as montanhas,
fazem-me sonhar.
Em cada sonho vivem as entidades
que voam pelo azul do céu,
forradas por um tapete branco,
cobertas por um véu
de nuvens.
Nos alpes,
na busca das estrelas,
em cada cume vivem almas
se encontram em paz,
se enlevam,
se acalmam.
**Com asa.**
Vivo entre o céu e a terra,
caminho pela neve branca e cintilante.
Mas meus pensamentos são como brasas,
escaldam minha paz.
Voam... voam...
São as pedras cinzas, lisas,
maduras, escaldantes.
Os espíritos passam sobre mim
como gaviões que levam gente
para um lugar bem distante.
Penso em Ngama,
Deus africano,
e no meu reencontro comigo mesma.
Em silêncio, pergunto à minha identidade:
de onde eu vim?
quem sou eu?
por que parti,
por que voei para longe
sem asa?
Desencontrei Awa,
quando pensei que ela morava em mim.
Nunca encontrei o habitat,
minha deusa ficou em altares distantes,
longe... bem longe...
Minha alma buscou o espírito da terra.
E o sol, em resposta,
disse-me:
"Voaste nas asas do vento,
levada por alguma pena.
Mergulhas em ti,
na calma negra das aves,
para ver o sol nascente
do mais alto nível da terra."
Eu voo sempre,
todas as noites,
para buscar em mim
um lar,
uma saudade que nunca me abandona,
um lugar que nunca esqueço
e padeço sem saber o porquê.
Nada dos dias
diferente do que eram,
do que ficam,
do que vêm,
do que foram.
Eu sempre voo nas noites.
Sinto o cheiro do mato,
o calor que queima minha pele,
ouço murmúrios dos selvagens,
sem asas que voam,
à procura da alma.
Encontro o pássaro
que me lançou aos altos;
meu corpo deixou cair,
numa queda sem fim...
**Devo dizer: sem mim.**
autora: Isabel van Gurp
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