O Que Seria de Nós?
O que seria de nós,
se o mundo conspirasse a nosso favor,
se o vento soprasse sempre ao sul do peito,
empurrando nossos barcos cansados
para portos de calma e luz?
Se as águas mansas nos embalassem,
e a vida, com suas marés,
fosse apenas uma dança
entre o ir e o voltar?
O que seria de nós,
se o mundo realizasse todos os sonhos,
se o riso fosse simples, cotidiano,
feito pão quente sobre a mesa,
e as lágrimas nascessem apenas
para dar brilho a um sorriso?
Se a felicidade não fosse promessa,
mas presença
mansa, constante, verdadeira
no dia a dia de cada ser?
O que seria de nós,
se a bondade habitasse cada olhar,
se toda alma fosse pura,
e toda gente fosse, de fato, gente?
Se o sol brilhasse todos os dias,
e os arco-íris fossem pontes
entre as dores e a esperança?
Se a chuva viesse apenas
para molhar os jardins,
lavar as calçadas,
matar a sede,
banhar os corpos com orvalho e paz?
Se as noites caíssem suaves,
como véus sobre anjos adormecidos,
e os sonhos fossem sementes
do que há de melhor em nós?
O que seria de nós,
se não houvesse guerra,
se a paz fosse o idioma da Terra,
e o respeito, a religião universal?
Se a justiça fosse feita de igualdade,
e as diferenças fossem apenas
cores diversas do mesmo arco de luz?
O que seria de nós,
se aprendêssemos nas escolas e na vida
que o valor do ser
não se mede pela pele,
nem pelo bolso,
mas pela essência?
Se a empatia fosse rotina,
e o amor, lei natural?
Se os hospitais fossem desnecessários,
as doenças inexistissem,
e a morte fosse apenas
um retorno à casa da alma?
O que seria de nós,
se não houvesse temporais,
nem florestas em chamas,
nem homens ferindo a terra
que lhes dá abrigo e pão?
Se pudéssemos caminhar
entre lobos e leões,
e ver neles irmãos,
não ameaças?
O que seria de nós,
se o mundo fosse igual
sem cores, sem contrastes,
sem o milagre da diferença?
Se tudo estivesse pronto,
sem a necessidade da luta,
sem a beleza do erro,
sem o aprendizado da queda?
O que seria de nós,
se não tivéssemos que aprender
com as ausências e as tempestades,
com o suor e as lágrimas?
Se o vento não viesse contra,
não saberíamos remar.
E sem resistência,
não há conquista.
Porque a vida ensina
que a dor também floresce,
e que cada derrota é um ensaio
para uma vitória maior.
O que seria de nós,
se fôssemos felizes para sempre,
sem saber o que é viver?
A vida é feita de travessias,
de esperas, de perdas,
mas também de renascimentos.
Não há eternidade sem instante,
nem amor sem entrega.
O que seria de nós,
se o mundo conspirasse a nosso favor,
e ainda assim
não soubéssemos agradecer?
Talvez...
não seríamos nada.
Porque o milagre da vida
é justamente existir
imperfeitos, humanos,
e eternamente em busca
do divino dentro de nós.
Autora: Isabel van Gurp



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