O silêncio me fez dormir
Para vida
Ouvi a brisa do vento
Garoa, batendo na terra seca
O cheiro da terra molhada
Meu corpo aos poucos indo…
Partindo…me deixando
No reflexo do espelho
Eu ainda era uma garota
Tinha no colo um corpo franzino
Que sugava de mim
O que ainda restava
De ser uma menina
E aos poucos me tornei mulher
Meus seios enchiam de leite
Senti meu corpo transformando
Em deleite para uma boquinha faminta
Mais uma vez
Uma gravidez
Outra vez, mãe
De um menino e uma menina
Me realizei como mulher
Voei no tempo descalça
E os meus pés cru e soturno
Me faziam decorrer pela vida
Pelos ares com as nuvens
Que tornavam-se negras
E traziam tempestades
Inundavam meu corpo
Com tanta força
Que na jorrada d'aguas
Me levam para o rio abaixo
Perdi raízes como as árvores
Como as flores suas folhas
E as rosas suas pétalas
Joguei sementes com naufrágio
Em águas turbulentas
Gritei
Preciso viver
E tinha que deixar rastro
Retornar
Me agarrar no mastro
Afundei meu corpo
E alma inerte
Para acumular energia e força
Certeza da esperança
E do meu eterno amante
Foi no seu olhar que eu vi ele balbuciar
Levante! Levante!
Abrir os olhos....
Ele não estava mais lá
Somente nas minhas lembranças
O silêncio me fez acordar
Sua voz ecoa nos meus pensamentos
Para vida
Ouvi a brisa do vento
Raio de luz
Garoa, batendo na terra seca
O cheiro da terra molhada
Meu corpo aos poucos voando....
Sonhando e voltando
As sementes que ainda estavam no caminho
Jogadas por mim
Brotava jasmins
Fazia o cheiro trazer a mim
A vida de um menino
Peguei os grãos
Do próprio fruto
Germinei no meu jardim
A semente chamei de Matheus
E seguir a minha vida
Para ser feliz com os meus….