Arapuca |
Roterdam |
Em luas cheias
O que move distante
E a esperança
Cobertos de medo
Com uma coragem sublime
De se lançar na escuridão
Nas turbulências dos oceanos
Nas incertezas das mares
Sem triunfos de heróis
Fechados pela agonia
Desesperados pela angustia
Sem saber o que querem
E aonde vão
Muito menos quando vão arribar
Mesmo assim partem
Se não encontrarem a morte
Se não precisar regressar ao porto de partida
Já é um grande triunfo
Ou apenas um recomeço
De uma vida nova
Essa busca incansável de sair
O que acoita de fugir
De buscar

Nem de longe é um baú com tesouro
São migalhas que lhe jogaram
Como iscas
Em terras firme
Se ciscar
Uma arapuca
De tantas quantas que já foram armadas
Para esses povos
Não existe a busca do rumo da história
Nem o perdão e a consciência
O que volta sempre é a violência
Não há cobrança do que já se foi roubado
Nem a divida que nunca foi paga
Nem as lembranças dos seus ancestrais
Na bussola que gira sempre para outro lado
Empurrados pelos navios adentro
Escravizados pela riqueza
Vendidos e humilhados
Em navios negreiros
Assim chegavam
Assim partiam
Assim emigram e imigram
E amortiçados pela escravidão
Não, são barcos
Que levam as mesmas vidas humanas
Que atravessam o mar na mesma direção
São eles mesmo
Não são heróis
Sem donos
Sem papéis
Sem amordaçadas que levavam os seus ancestrais nos pés e nas mãos
Que voltam sempre
Buscam o que?
E vão encontrar o que?
Assim eles são concentrados em fileiras
Fazem o mesmo percurso
Persuadidos pelos sonhos
Como todos os imigrantes
Tratados da mesma maneira
Ilegais lhe chamam
autora: Isabel van Gurp