terça-feira, 13 de maio de 2014

Cumplicidade de agô


No silêncio da história,
calar teus pensamentos
foi fechar os olhos,
trancar as portas,
fingir não ver,
não questionar.

Conveniente,
com ar de superioridade,
não perguntaste quem pagaria a conta.
Pouco importava o troco,
nem o prejuízo crescente
das indiferenças do poder.

Não quiseste saber
quem recebia as migalhas
dos restos dos teus pratos,
limpos pelos olhos da fome.

Enquanto bebias teu whisky,
os muros da tua prisão
cresciam na tua frente.
Mas desde que não cruzassem tua calçada,
não manchassem teu chão polido
pelas cores das diferenças,
tudo parecia estar em ordem.

Era bom ter a janela limpa
pelo flanelinha,
era cômodo ter uma escrava
no dia a dia,
e acreditar que alguns centavos
pagariam o jogo sujo
onde só tu tinhas a última carta.

Mas havia um abismo no vão do teu olhar,
nas frestas da tua arrogância
morava outro mundo:
um povo sem escola,
sem lar,
sem vez.

Teu luxo e tua indiferença
se encontravam na poeira das praias,
no asfalto rachado das favelas,
no mesmo pó comprado e vendido
a preço de sangue.

E quando a voz que pedira igualdade
foi silenciada pelas tuas divergências,
o preço a ser pago
se fez alto demais:

o medo da violência,
a vida dos inocentes,
perdida a cada esquina,
como cobrança de um jogo cruel
de pura negligência.





Autora: Isabel van Gurp













































 

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Êxtase






Que se escondam minhas palavras
entre os teus lábios,
que se desfaçam meus desejos
no calor do teu corpo,
onde realizo meus delírios
e me entrego, sem medo,
às tuas fantasias.

Que meu orgasmo encontre o êxtase
no teu gozo,
e que eu permaneça no paraíso
dos teus braços.

Que nossa cama seja guardiã dos segredos,
entre quatro paredes,
onde a noite se faz longa,
insaciável,
sob os lençóis que cobrem loucuras,
sem pudor,
no entrelaço da paixão e do desejo.

Entre nossas vidas,
entre ti,
entre meu corpo e minhas entranhas,
que o dia só desperte
depois de uma interminável
noite de amor.


Resumo do Êxtase

Entre Nós

Isabel van Gurp

Entre nós, as palavras se escondem. Escorrem dos meus lábios até os teus, dissolvem-se no calor do teu corpo, onde meus delírios se realizam em silêncio. Entrego-me, sem medo, às tuas fantasias, às tuas vontades que me envolvem como se fossem vento e fogo.

O prazer vem como maré que avança, encontra o êxtase no encontro dos nossos corpos, e me deixa suspensa no paraíso dos teus braços. Há uma eternidade nos segundos em que me perco em ti.

Nossa cama é guardiã dos segredos, cúmplice das noites longas e insaciáveis. Sob os lençóis, o pudor se desfaz, e o desejo se deita sobre o desejo, num entrelaço de respirações e promessas. Cada toque é um poema não escrito, cada suspiro, um verso que só nós sabemos pronunciar.

Entre nós, o tempo se curva. Entre meu corpo e minhas entranhas, o amor se repete em ondas, em ciclos, em fogo. E quando o sol ameaça nascer, ele se cala, respeitando o nosso silêncio.

Que o dia só desperte depois da última estrela apagar-se.
Depois de uma interminável noite de amor.


Autora: Isabel van Gurp

 

sábado, 3 de maio de 2014

Somos Todos Reis e Rainhas


Um dos lugares mais fantásticos na Holanda, é o Efteling. Um lugar mágico que todos contos se encontram, sorrisos e alegria. No Efteling você recebe o ingresso para ser criança novamente. A magia está nos campos, nas atrações do parque, no teatro, no carrossel mas esta mesmo dentro de nós quando podemos ser anjos novamente. 






Somos Todos Reis e Rainhas


Somos todos reis e rainhas.
Quando a essência é grande,
o sangue é azul em nossas veias vermelhas 
corre, pulsa, descobre.

Somos nobres,
sublimes por descendência,
herdeiros da grandeza da alma.
Nosso título de honra
é simplesmente a vida.

Quando ainda meninas e meninos,
somos príncipes e princesas
que constroem castelos de areia
no faz de conta, na brincadeira.
Somos puros,
felizes com nossos sonhos e esperanças.
Nunca deixamos de ser crianças 
apenas esquecemos quem fomos.

Mas eu ouvi dizer...

Que há muitos, muitos anos,
num dia triste,
uma bruxa muito má
lançou uma praga sobre as crianças
do Reino Terra.
Disse que todas cresceriam,
que se tornariam adultas para sempre,
e que o brasão infantil
desapareceria de seus corações.

E assim foi:
a pureza perdeu-se,
a beleza se escondeu
nos pequenos gestos que já não vemos.
Deixamos de nos encantar
com a borboleta que dança no jardim,
com as flores que morrem em silêncio
seguindo o ciclo da vida.

Crescidos, deixamos de falar com os anjos,
de brincar com os espíritos bons
que se aproximam da inocência.
Perdemos o sorriso sem culpa,
vendemos a alma por pouco,
esquecemos de olhar as estrelas
nas noites de lua cheia.

As fadas, quando passam pelas casas,
já não conseguem abençoar-nos:
as portas estão trancadas,
e as almas, fechadas.
O medo substituiu as lágrimas,
a vergonha calou os sentimentos.

A água cristalina da infância,
que toda criança é,
foi bebida por um monstro invisível
até restar apenas o homem, a mulher,
com sede e solidão.

Na poção da bruxa havia maldade 
a pior de todas as heranças.
E, com ela, esquecemos o amor puro,
aquele que nasce em todos
e permanece enquanto somos anjos.

As palavras passaram a ferir.
O perdão tornou-se raro.
O ódio, uma erva daninha
plantada em cada vida.
Deixamos de ver a beleza no simples,
o encanto nos detalhes,
a alegria nos gestos pequenos.

O balanço já não nos atrai,
nem o jardim com escorregador,
pois temos medo de cair.
E assim, deixamos de abraçar,
de dizer “eu te amo”,
de acreditar no amor.

Mas…

Dizem que uma fada bondosa,
ouvindo a maldição,
quis dar ao mundo uma nova chance.
Concedeu às mulheres o poder da maternidade:
gerar e amar um filho
seria o feitiço que quebraria a dor.
E mesmo as que não gerassem
teriam o dom de amar pelo coração,
de serem mães por escolha e alma.

E assim, o amor materno
passou a ser o mais sagrado,
a magia mais pura da humanidade.
Porque o homem que conseguisse manter
esse amor,  terno, incondicional,
feito de perdão e ternura 
teria para sempre
a alma de uma criança.




autora: Isabel van Gurp