terça-feira, 13 de maio de 2014

Cumplicidade de agô


No silêncio da história,
calar teus pensamentos
foi fechar os olhos,
trancar as portas,
fingir não ver,
não questionar.

Conveniente,
com ar de superioridade,
não perguntaste quem pagaria a conta.
Pouco importava o troco,
nem o prejuízo crescente
das indiferenças do poder.

Não quiseste saber
quem recebia as migalhas
dos restos dos teus pratos,
limpos pelos olhos da fome.

Enquanto bebias teu whisky,
os muros da tua prisão
cresciam na tua frente.
Mas desde que não cruzassem tua calçada,
não manchassem teu chão polido
pelas cores das diferenças,
tudo parecia estar em ordem.

Era bom ter a janela limpa
pelo flanelinha,
era cômodo ter uma escrava
no dia a dia,
e acreditar que alguns centavos
pagariam o jogo sujo
onde só tu tinhas a última carta.

Mas havia um abismo no vão do teu olhar,
nas frestas da tua arrogância
morava outro mundo:
um povo sem escola,
sem lar,
sem vez.

Teu luxo e tua indiferença
se encontravam na poeira das praias,
no asfalto rachado das favelas,
no mesmo pó comprado e vendido
a preço de sangue.

E quando a voz que pedira igualdade
foi silenciada pelas tuas divergências,
o preço a ser pago
se fez alto demais:

o medo da violência,
a vida dos inocentes,
perdida a cada esquina,
como cobrança de um jogo cruel
de pura negligência.





Autora: Isabel van Gurp













































 

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