domingo, 23 de março de 2025

Encontro entre dois muros

 Encontro entre dois muros

Pelas ruas de cubos gastos,
Uma ergue muros contra a sombra,
contra o roubo, contra a miséria alheia.

A outra, com olhos atentos,
se esconde da farda, da ordem,
da lei que não a reconhece,
cinicamente a chama de Gaza.

Ambas, presas em suas fortalezas,
se defendem —
não uma da outra,
mas da mesma ferida aberta
que sangra no meio da cidade.

Entre os muros, escondem vidas,
histórias quebradas, vícios profundos
de uma sociedade doente.

São os vícios que elas têm em comum,
que gritam nas vielas,
que explodem na violência das armas,
das milícias e do tráfico —
ecos de um mesmo abismo.

São duas margens do mesmo rio turvo,
dois reflexos distorcidos no concreto,
unidas pelo medo,
pela dor que nunca cessa.

E, no silêncio da noite,
quando o mundo parece calar,
o abismo as sussurra,
lembrando que a cicatriz é uma só,
mesmo que os muros sejam altos.
Transbordam com a mesma dor

Entre muros cinzentos,
se escondem vidas, histórias,
cicatrizes que o tempo não cura,
ecoam lamentos, memórias.

Vícios profundos,
raízes no peito,
gritam nas vielas,
gritam nos andares perfeitos.

Favelas ou condomínios,
duas faces do mesmo chão,
lá e cá, um espelho sombrio,
milícias, tráfico, opressão.

Com suas barreiras nas comunidades,
que os militares não invadem,
ali, o controle é outro,
onde a lei não sabe o nome.

Nos condomínios, os assaltos,
a cerca elétrica, o pânico,
mas o medo atravessa os muros,
e mora em cada canto.

São elos de um mesmo abismo,
correntes forjadas na dor,
onde o medo é vizinho,
e a esperança, um favor
O elo é Deus

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