sexta-feira, 1 de março de 2013

A Casa Atrás do Muro





Eu já estou morrendo de saudades
do que existe sob este céu azul,
onde as nuvens brancas ainda permitem sonhar.

Lembranças que voam, voltam, correm,
e repousam no tempo sagrado.
A alegria renasce em cada passo,
no espaço sem horas,
no nunca que nunca deixou de existir.

Caminho pelas pedras antigas,
as mesmas que formaram essas escadas,
alicerces de cada tijolo
que ergueu a minha casa.
Vejo as pedras que não envelhecem,
sinto sua força vinda da terra,
do concreto que sustenta o ar
que ainda respiro dentro de mim.

A vibração que tantas vezes me fez levantar
ainda vive nelas
nas vigas, nas pedras,
no coração que ergueu esse lar.

Rodeada de árvores,
no verde de onde sempre tirei meu ar,
o oxigênio que me ensinou a viver
ainda é de lá.
Dos galhos onde eu colhia meu pão,
comendo o doce da fruta
no café da manhã,
misturado ao azedo do limão.

Ainda sinto a energia
da felicidade de uma criança
que corria entre as árvores,
subia no teto da casa
para brincar de ser adulta
com os sapatos velhos da mãe,
fazendo comida de mentirinha com mato,
chamando as comadres
para um chá que era só água.

E assim os dias passavam,
nas casinhas inventadas,
nas travessuras tão puras,
com lenço na cabeça
para fingir cabelos longos,
até que uma delas virava
a mulher do padre.

Eu já estou morrendo de saudades
do que vive sob este céu azul,
onde as nuvens brancas me devolvem o sonho.

Das pedras que ergueram esta casa.
Do verde de onde eu tirava meu ar.
Do sol que marcou meu corpo,
mas que pude trazer comigo
para aquecer a minha alma
nos dias em que a saudade
fala mais alto que a razão.

Essa casa atrás do muro,
essa casa que mora na memória,
vai ser sempre
em mim
o meu lar.







  autora: Isabel van Gurp


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