Para sentir a vida,
arranquei os sapatos.
Com pés nus,
caminhei sobre cacos de vidro,
lançados pelo destino,
marcados por Deus,
lapidados pelos meus anjos.
Pisei em cada fragmento.
Alguns quebrei em pedacinhos,
com a força do meu corpo.
Outros, assoprei para longe,
com a ajuda do vento.
Alguns feriram meus pés
sem deixar lesão.
Outros sangraram minha alma,
rasgaram a pele,
sem derramar uma gota.
Houve os que marcaram,
como riscos profundos,
traçando mapas do meu caminho.
Outros fincaram-se no coração,
mas não arrancaram o amor.
Em cada estilhaço,
vi meu reflexo.
Chorei, e as lágrimas
lavaram minha dor.
Em cada pedaço,
aprendi uma lição.
Morri de medo.
Mas vivi.
Senti menos, mais,
inteira.
Chorei e sorri,
caí e me ergui,
errei e segui.
Hoje, caminho sem medo
de pisar em cacos de vidro,
porque deles
eu fiz meu espelho.
Eu vivo.
E sobrevivi.
autora: Isabel van Gurp
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