sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Carta

A carta 



Saí de cada sonho
com um olhar desalentado,
que, aos poucos, me dizia,
em tantas frases,
em tão poucas palavras,
o que eu teimava não ouvir.

Vinhas do amor,
mas eu fugia do olhar
não queria entender
o que tu querias me dizer.

Fabulei uma história.
Fui autora da minha própria mentira.
Inventei, fingi,
corri do medo
que me assombrava,
que crescia dentro de mim
um monstro de negação.

Lutei contra a verdade,
mesmo com todos os sinais,
os presságios visíveis
nos teus gestos,
no tom da tua voz,
na frieza do teu olhar.

Mesmo assim,
inconscientemente,
atropelava todos os semáforos
com as minhas emoções.
Seguia cega
por amor, por desejo,
por necessidade.

Entreguei-me sem dignidade,
sem amor próprio,
porque, sem ti,
achava que amor não havia em mim.
Achei que o mundo acabaria
se eu te deixasse partir.

Congelei-te na minha memória.
Acreditei na história
que criei para nós dois:
que nada poderia nos separar.

Perdão
fui cega pela paixão.
Pensei,
me enganei,
me iludi.

Acreditei que seria para sempre.
E, talvez, o meu amor ainda seja.
Mas o nosso
já não existe mais.

Lutei para não ver
o abismo crescendo
entre cada silêncio,
entre cada espaço,
entre cada ausência.

Não ouvia mais tua voz,
não sentia mais tua presença,
não reconhecia mais teu olhar.
O toque se foi,
ficou o vazio.

O que restou de nós
foi pouco
ou quase nada.

Espero apenas salvar
um último resquício:
a amizade.

E, se nada mais resistir,
aceito o fim.

Esta carta é tua alforria.
Vai.
Sê feliz.


  autora: Isabel van Gurp






 
  

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