
Esculpida em anel,
Caligrafados os nossos nomes em ouro,
Confessamos, no altar e em voz alta:
“Prometo estar contigo na alegria e na tristeza,
Na saúde e na doença,
Na riqueza e na pobreza,
Amando-te, respeitando-te
E sendo-te fiel todos os dias da minha vida,
Até que a morte nos separe.”
Pintados com pincel,
Sussurramos nosso pacto:
— Eu te amo.
Mas o tempo passou...
Meu corpo conheceu as marcas
Escritas com tuas mãos.
Queimavam com o calor,
Afagavam com os dedos,
Desenhavam caminhos
Sem limite de escaladas.
No cansaço,
Chegávamos ao auge
E nos rendíamos ao deleite.
Mas o tempo passou...
Tuas palavras, medidas exatas,
Eram a régua da minha alegria.
Fazias meu corpo tremer em gozo,
Entre sorrisos e céu.
Na plenitude do amor,
Acreditei:
— Era para sempre.
Mas o tempo passou...
Há atos que não viram cinza.
Não se queimam memórias
Que tocaram meu corpo
E percorreram minhas entranhas.
Estão gravadas
Com tuas mãos
Em cavidades que ainda pulsam.
Sou bombardeada por lembranças.
Somos testemunhas
Da nossa cumplicidade:
Eu e você.
Você e eu.
Lembra?
Mas o tempo passou...
Perdemos a conta dos contratempos.
A vida tocou como ponteiros quebrados,
Marcando horas de desilusão,
Tristeza, brigas, tropeços.
Um conto que virou quase nada.
E o que resta?
Pouco.
De tudo que um dia foi tão colosso.
Mas o tempo passou...
Os anos somaram palavras
E discussões.
Diminuíram os gestos.
Olhos marejados,
Corações em desacato.
Engolimos mágoas
Que o tempo (esse tempo!)
Fez crescer em silêncio.
Mas o tempo passou...
E nos perdemos em alguma margem,
Numa canoa sem remos
Descendo o rio
Das esquinas da vida.
Ao lado de alguma curva.
Eu não sei.
Mas o tempo passou...
E mesmo os dias sombrios
Não conseguem apagar
As boas lembranças
São tantas.
Algumas têm nome e idade:
Nossas crianças.
Outras vivem em sentimento:
Não são os bens,
Mas o amor que construímos.
Um templo.
Feito pedra por pedra,
Gota por gota,
Ato por ato.
Detalhes costurados com respeito e amor.
Mas o tempo passou...
Em sopros...
E o vento não soprou de volta
O olhar, o infinito, as promessas.
Mas que fique em nós
Nosso templo erguido:
Por mim, por vós, por nós.
Afinal, nossos filhos
São nossos retratos.
Nossa história.
Nossa família.
Das mãos entrelaçadas,
Juras que eram para sempre.
Nascidas de nossos ventres,
E sempre serão nossos.
Mas o tempo passou...
E eu não percebi que você se foi.
Foi isso?
Ou foi o tempo
Que nos levou embora, devagar?
Talvez nunca tenha sido para sempre.
E tudo bem.
Você me disse:
— “Eu deixei de te amar...”
Com o tempo.
Autora: Isabel van Gurp