
Maria, meu nome é Maria.
Entre as estrelas,
Vivo o espetáculo da vida e da morte.
O exemplo da bela,
De ser mais uma entre todas elas
Ícone da tela.
Maria.
Maria, meu nome é Maria.
Imaculada Maria.
Virgem Mãe e sem pecado.
Donzela.
Sou eu… Maria.
Para ser mãe,
Condenaram o fruto do amor.
Concebida pelos anjos,
Julgada pela sociedade.
Precisaram me santificar.
Virgem pura por excelência.
Em nome dos magos,
Bendito é o fruto do teu ventre.
Sagrado.
E clemência.
És tu entre as mulheres
Sagrada.
Em virgem pari.
Maria de Nazaré,
Fui mulher.
Senti dor na carne
Como todas.
Entre todas,
Na ostentação das estrelas,
Sou eu: Maria.
Virgem Maria,
A mais bela das belas,
Mãe do Salvador.
A virgem de Nazaré.
Meu nome é Maria.
Minha vida, em luxúria.
Atiraram pedras.
Fui escrava,
Vendida,
Servi à corte.
Entre todas as Marias,
Fui Maria entre todas elas.
Um rei me salvou
Da iniquidade
Com uma simples frase:
“Aquele que de entre vós
Está sem pecado,
Seja o primeiro
A atirar a pedra.”
Mas mesmo assim,
Me lançaram à ruína secular.
Em preceito, me redimiram
Para salvar o mundo.
Em cena,
Em si próprios, se calaram.
Inocência da fé.
Maior discípula do Rei.
Não permitiram que eu fosse sua mulher.
Sou eu, Maria.
Na ceia, estou ao teu lado.
Fui, entre todos, uma fêmea.
E o medo…
Me transformaram em puta.
Na remissão,
Em Santa Maria Madalena.
Dentro de uma concha de madrepérola,
Carrego em mim
Um órgão chamado útero.
Sou fêmea.
E sangro.
É tudo, menos impuro.
Esse fenômeno me dá
O poder de Vênus
De conceber a vida
Que está nas minhas mãos.
De procriar.
De amar.
Não sou santa,
Nem donzela.
Analogia do referente.
Me julgaram bruxa.
Heresia.
Criaram histórias.
Me transformaram em lenda.
Que Maria sou eu?
Me culparam pela morte,
Pela fome,
Pela dor.
Pela peste negra,
Pelas pragas.
Me jogaram na fogueira,
Com aval.
Queimada viva em ardor.
Para sofrer as penas do inferno,
No calor da Inquisição.
Sob controle papal.
No lume, se via
O ódio da fé.
Para salvar os teus,
Eu, Maria,
Tinha que arder em flamas.
Trazia dogmas.
E, com eles,
A salvação da apologia.
As culpadas? As Marias.
Prova?
— Cinquenta quilos de peso.
— Seiscentas mil vidas perdidas nas chamas.
E até hoje,
Sente-se o cheiro
Da carne queimada viva…
Das Marias.
Mas eu, Maria, porto a vida.
Meu útero é o pecado dos homens.
Uma virgem não pode saber
Das lamúrias do mundo.
Minha magia:
Conceber a vida.
Minha sentença:
Nascimento.
Minha condenação:
Ser mulher.
Concebo a vida.
Carrego a vida.
Dou a vida.
Milagre do ciclo.
Do mês.
Da Terra.
Eu sou mulher.
Me chamem de Maria.
Autora: Isabel van Gurp