segunda-feira, 22 de julho de 2024

Vamos embora para ontem


 

Vamos embora... vamos,
Não sei para onde, não sei pra quê.
Talvez para ontem,
Onde tudo era você e eu,
Onde o sorriso era fácil,
E o futuro, um segredo bonito de esconder.

Vamos embora... vamos,
Buscar no passado nosso futuro,
Buscar esperança no brilho do olhar,
Sonhar, sonhar, sonhar —
Só nós, nós dois,
Que um dia fomos tudo, fomos mais.

A paixão nos incendiava,
Corria em nosso sangue,
Água nenhuma apagava,
O fogo dos nossos corpos em brasas,
As velas acendiam o que o amor já queimava.

Éramos nós, o resplendor,
Éramos nós, o calor,
As almas misturadas no gozo,
Onde o inferno era apenas um ponto de partida.

A noite se confundia com o dia,
A lua nos acordava,
E os lobos uivavam a nossa dança,
Num canto de paixão sem rumo,
Sem chão, sem teto, só amor.

Vamos embora... vamos!
Esquecer o presente, viver a eternidade,
Pegar meus sonhos, pegar sua mão,
E ser ninguém no papel do mundo,
Mas juntos, ser alguém feliz.



Autora 

Isabel van Gurp


terça-feira, 16 de julho de 2024

Pedras

 



Pedras no Caminho

Há pedras no caminho.
Sim, muitas pedras.

Encontramo-las no correr dos dias:
Algumas, arremessadas contra nós;
Outras, a favor.

Elas nos desmontam,
Nos ferem, nos magoam, nos aniquilam.

Reze uma Ave Maria.
Guarde-as.

Algumas batem e retornam,
Outras permanecem,
Outras se desmancham ao longo do tempo.

Há pedras que são lavas 
Explodem como vulcões em nossas vidas.
Em sua passagem, erguem escudos e pavores.

Reze uma Ave Maria.
Guarde-as.

Algumas pedras desviam caminhos,
Outras, em metamorfose, fazem nascer o saber.
E muitas, semeiam o conhecer.

Dentro do ventre, tornam-se crias.
E, por conceber, acolhem.
A semente germina:
Um novo ser se desenha.

Dissemina, entremeia.
Nos seios, transforma-se em pedras de leite,
Banquete de vida
À boquinha faminta que amamentarás.

Guarde-as.
Reze uma Ave Maria.

As pedras que são lapidadas
Transformam-se em brilhantes.
As mais preciosas são dádivas da natureza:
Do nascimento ao envelhecimento,
Lapidadas pela vida,
Até tornarem-se diamantes eternos.

As pedras vêm e vão 
Não importa se jogadas, colhidas, plantadas,
Brotadas ou ofertadas.

Jamais atires a primeira pedra.

Reze uma Ave Maria.
Guarde-as.

Cada uma delas.

Com elas construirás fortalezas,
E talvez um império.

Guarde uma a uma,
Pois são joias raras,
Mesmo aquelas que queimaram tua pele,
Que chegaram como poeira, gás, cinza ou areia.

Guarde-as.

Sê alquimista:
Com navalha fina, esculpe diamantes,
Transmuta dor em sabedoria.

Minhas pedras — todas as que encontrei 
Guardo-as em minha galeria.

Pois será com elas
Que construirei meu castelo.

Enquanto isso, rezo:
Uma Ave Maria.



Autora: Isabel van Gurp













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