De Grão em Grão
De grão em grão,
a galinha enche o papo.
São os grãos que nos alimentam,
que nos sustentam,
que matam a fome dos homens.
Grão
que cresce nas árvores,
que se espalha no campo,
entre espigas e milhos,
na terra amiga,
com o espantalho como guardião.
Grão
que está em todos os pratos:
grão de arroz,
grão que gosta da garoa,
que molha raízes,
fertilizando o mundo,
dos mancebos às coroas.
Grão
que corre pelo chão,
passa pelas prateleiras do mercado,
e termina na mesa do consumidor.
São os grãos-anciãos,
pesando nas mãos,
ensinando a matemática da vida,
ou lançados ao vento
para prever a sorte.
São grãos de bico,
grãos que se compram,
grãos que se vendem,
nos quatro cantos do mundo.
As crianças se alimentam da aveia,
os homens trabalham noite e dia,
fazendo da vida uma colmeia,
transformando o mundo numa ceia.
Grão de café,
semeado em todo o planeta.
Grão de lentilha,
promessa do ano novo.
Grão de contas,
pendurado no pescoço da menina,
com seu axé sagrado.
Grão-mestre,
que veio do céu para a Bahia
em forma de cacau,
transformado em chocolate.
Grão de feijão dos Oxalás,
da cor da nossa mãe África,
que rola em búzios
nos terreiros dos orixás.
Grão de soja,
que cresce assustadoramente
no lugar da floresta,
ocupando o espaço
do meio ambiente.
Grão de milho,
que pipoca nas panelas,
para ser festa no cinema.
De grão em grão,
a galinha enche o papo,
e gira a roda da fortuna,
em sacas e containers
que partem para longe:
para a China,
para Lima,
para o mundo.
Autora: Isabel van Gurp