quarta-feira, 24 de maio de 2017

Imaginem





São nuvens que formam as lágrimas
No céu.

— Dizem que é morada dos anjos.
E o que dizem...
Que os anjos bons
Voam pra lá.

Imaginem…

As almas puras deslizam.
E as outras caminham.
Ao ouvir um canto, naufragam.

É lenda… pura lenda…

Imaginem…

Nos meus olhos
Escorre a chuva.
Inunda o mar,
Sacode os barcos
De lá e pra cá.

Uma serenata,
De longe, se sente:
As sereias que cantam
Aos ouvidos dos deuses...

E nadam.

Imaginem
As ondas
Que mergulhavam em mim:
Batem, voltam,
Vão, vêm.

Em poemas, cantam.

As águas escorrem.
Flutuei nas minhas lágrimas
Que regavam o mar, os rios.
Desembocavam no céu,
Resvalando em gotas,
Nas cachoeiras que, ao revés,
Pingavam nas nuvens,
Formando os oceanos.

Os donos são deuses.
Elevam meu corpo à eternidade.
Sinto perder o chão.

Meu corpo caía
Como os raios
De um temporal de verão.
Nascida em Gaia.

O tempo passava lentamente
Por todos os meus poros,
Secando cada gota de chuva.
Eu subia,
Subia lentamente
Para o andar de cima.

Acreditei na mitologia
Dos raios.

Sentia-me nua.
Meu corpo tinha escamas 
Uma camuflagem de sal
Deixado pelo mar.

Secava meus pecados
Em ardor.
Curava minhas feridas
Como um milagre.

Sentia-me salva.
E a porta se abria.
Era dos céus.

De longe, vi a Estrela d’Alva.
Mas mergulhei no mar…
Como uma sereia.



Autora: Isabel van Gurp


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