São nuvens que formam as lágrimas
No céu.
— Dizem que é morada dos anjos.
E o que dizem...
Que os anjos bons
Voam pra lá.
Imaginem…
As almas puras deslizam.
E as outras caminham.
Ao ouvir um canto, naufragam.
É lenda… pura lenda…
Imaginem…
Nos meus olhos
Escorre a chuva.
Inunda o mar,
Sacode os barcos
De lá e pra cá.
Uma serenata,
De longe, se sente:
As sereias que cantam
Aos ouvidos dos deuses...
E nadam.
Imaginem
As ondas
Que mergulhavam em mim:
Batem, voltam,
Vão, vêm.
Em poemas, cantam.
As águas escorrem.
Flutuei nas minhas lágrimas
Que regavam o mar, os rios.
Desembocavam no céu,
Resvalando em gotas,
Nas cachoeiras que, ao revés,
Pingavam nas nuvens,
Formando os oceanos.
Os donos são deuses.
Elevam meu corpo à eternidade.
Sinto perder o chão.
Meu corpo caía
Como os raios
De um temporal de verão.
Nascida em Gaia.
O tempo passava lentamente
Por todos os meus poros,
Secando cada gota de chuva.
Eu subia,
Subia lentamente
Para o andar de cima.
Acreditei na mitologia
Dos raios.
Sentia-me nua.
Meu corpo tinha escamas
Uma camuflagem de sal
Deixado pelo mar.
Secava meus pecados
Em ardor.
Curava minhas feridas
Como um milagre.
Sentia-me salva.
E a porta se abria.
Era dos céus.
De longe, vi a Estrela d’Alva.
Mas mergulhei no mar…
Como uma sereia.