segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Atlas




























Vou cruzando meu caminho
Em pontos,
Traçando meu mapa.

Em cada esquina,
Faço um conto.

E penso nas fadas,
Para sublinhar os desencontros.
Acentuo, em reflexo,
As brincadeiras do destino,
As causalidades dos reencontros.

Busco no nó
O fio perdido.
Cuidadosamente, emendo
Os traços dos pontos.

E ponto por ponto,
Eu remendo.
Faço um manto.

Feito de rendas —
E, às vezes, de trapos.
Ou na bainha de cetim,
Para sentir os brilhos em mim.

Uma colcha de retalhos
Sublinhada com laços.

E a cada passo, encontro:
Um chão,
Um fio,
Um mapa.

Meu destino,
Feito pelas minhas mãos.

E minha vida, enfim,
Costurada com espaço
Dentro do
Atlas de mim.


Autora: Isabel van Gurp 

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Vento de você




Centro de Breda 
Grafites em Breda 
























No meu pensamento,
Por que será que sempre voltas?
Eu não entendo.
Te joguei ao vento.

 
Voltas… por que será que voltas?
 
Já te apaguei
Da minha memória para sempre.
E com a ventania, voaste.
Te assoprei para bem distante.

 
Creio…
Então por que será que voltas?

Longe de mim.
A léguas.
Num lugar sem fim.
Bem distante, nas névoas.

 
E voltas.

Porque te reencontro em cada relance.
Num olhar.
Na quebra das ondas, um lance.
No ar, em mim, e no mar.

Por que ainda olho o mar,
Sinto a garganta seca,
Tremo, fico tonta.
Penso no teu nome
E o coração acelera.

 
Escrevo na areia: volta.

Por que caminho ao lado de um estranho
Que nunca vi antes,
E ele me faz sentir
Tua sombra ao meu lado —
Como se andássemos juntos
De novo.

Lado a lado.
Seguindo o mesmo sonho.

Olho pro lado,
Pra ver se é você.
Mas não és.

É só um desconhecido —
Que busco no meu delírio apaixonado.
Você. Sempre você.

 
Voltas… em sonhos alucinados.

Queria esquecer teus olhos,
Nosso amor insano,
Nos entreolhávamos
Tão cúmplices, tão amantes, tão humanos.

Eram desejos.

Horas inteiras
Em juras de amor insanável.
Quando me perdia na profundidade
Das águas dos nossos corpos — incansáveis.

Sucumbia no amor
Que era estonteante.

 
Inesquecível.

A sede de uma ressaca.
Bebíamos amor
Pra sermos um só
No mesmo copo.

 
Ficamos bêbados de paixão,
Numa só tragada.

Os timbres da tua voz
Me faziam esmorecer.
Aconchegada em teus braços,
Dormia — feliz de cansaço.

 
Eu era feliz… será por isso que voltas?

Em delírios,
Caía em sonhos,
Ao relento da alma,
Do silêncio e da calma.

Era demais.
Ser envolvida neles.
Teus afagos me enlouqueciam.
E, ao mesmo tempo,
Me faziam morrer…

De felicidade.

Com o sorriso
De quem viu os anjos.

Não consigo te esquecer.

E então,
Voltas…
E acalmas a minha alma.

 
Esqueça que um dia,
Eu te joguei ao vento.


Autora: Isabel van Gurp



Colaboradores