Paris - França
Recomeço
Eu não posso ter as lágrimas
No meu corpo,
Sentindo as gotas
Pingando na alma.
Eu não posso...
E nem quero...
Eu não vou partir mais
Sem questionamentos,
Sem adeus,
Deixando a metade de mim
Nos cais.
Eu não posso...
E nem quero...
Não há abandono,
Fuga ou despedida,
Sem ao menos dizer adeus,
E, ao mesmo tempo,
Sem acenos.
Eu não posso...
E nem quero...
Embarcar
Nos rumos vãos,
Em contrapartida,
Deixando-me levar inconsciente
Em qualquer leme.
Eu não posso...
E nem quero...
Fugir, fugir, não.
Ter esta saída
Dentro de mim,
Que me atormenta
E não me isenta.
Eu não posso...
E nem quero...
Dos meus pecados,
Dos meus amores,
Não livra minha dor,
Nem o meu passado,
Que balbúrdia as cores
Do meu espírito já cansado.
Eu não posso...
E nem quero...
Fingir.
Eu preciso saber
Quem eu sou,
Dentro deste contexto esquisito,
Na imagem refletida
No espelho esfumaçado, sem reflexo.
Uma nuvem negra,
Partículas de pó,
Condensam a chuva,
Para derramar o temporal na terra —
Sem dó,
Sem guerra.
Eu não posso...
E nem quero...
Se eu partir,
Devo perguntar:
Aonde vou?
Sem olhar para trás,
Sem remorsos.
Eu não posso...
E nem quero...
Esperar um embarque,
De cara limpa,
Ir de carona.
Não sei ainda o destino,
Mas não estou fugindo.
Já é um recomeço.
Talvez às cegas,
Sem saber o endereço.
Uma coisa é certa:
Sem fuga de mim mesma.
O que importa é a chegada.
Eu posso...
E quero...
A certeza de me reencontrar.
Preciso me levar inteira,
Sem roupas,
Inteiramente nua para o futuro.
Isso se chama vida,
E reencontro de ser.
Eu posso,
Eu quero viver!
E, antes de tudo,
Ser EU!
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