sábado, 23 de novembro de 2024

Amplitude

 



Quero Navegar Pelo Tempo - Amplitude 

por Isabel van Gurp


Quero navegar pelo tempo
Sem sentir as horas passar.

Quero navegar pela vida
Sem pesar a alma de ser.

Quero navegar pelo mar
Sem temer as ondas
Que flutuam no oceano.

Quero navegar pelo corpo,
Sentindo o gozo de viver
De fruir
Uma paixão eterna.

Isso eu preciso sentir:
A amplitude do orgasmo do querer,
Na frequência entre os limites
Das diferenças.

Dando crédito
À esfera celeste
Do norte ao sul,
Do leste ao oeste.

E com a bússola desordenada,
Quero caminhar até o céu
Sem tocar nas estrelas.

Não é por nada...
Prefiro ir sem o brilho
E encontrar o infinito.

E dizer em voz alta:

— Amei, vivi, gozei.

Me transformei em astro
Em águas límpidas, a transluzir 
Em mulher.


sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Amém!






Está Partindo
Leva contigo a saudade.
Faz-me esse favor:
Não deixes nada para trás
Nem rancor, nem ódio,
Muito menos o sofrimento.

Leva tudo.
Leva também o amor que te dei.

Vai.
Vai sem olhar para trás,
Pois eu, enfim, olharei para frente.

No espaço vazio,
Vou buscar a mim mesma.
Vou me reencontrar.

Sim, eu me perdi,
Tentando te agradar
Em cada contratempo,
Te amando mais do que a mim,
Sem reservas,
Em tempos de guerra.

Fui à luta por ti,
Esqueci de lutar por mim.
Meu amor-próprio? Não existia.
Meu orgulho? Morto.
Minha autoestima? Esquecida.
Enfim, nada... apenas você.

Entre tantas palavras sem brilho,
Era tua serva,
Escrava de uma paixão,
Afundando-me em rios,
Desesperada,
Afogada em mim mesma.

Morrendo aos poucos,
Por um fascínio que ousei chamar amor.

A culpa não é tua.
Não! Jamais!
Nem a dor eu te atribuo.

Fui eu 
Fui eu quem te amou mais do que a mim.
Fui eu quem se esqueceu,
Fui eu quem deixou de lutar,
Fui eu quem parou de se amar.

Me entreguei,
De corpo aberto,
Sem medo, sem freio, sem limite.

Minha vida era tua.
Minha missão:
Te fazer feliz.

Mas como?
Como fazer alguém feliz,
Quando nem sabia ser feliz comigo?
Quando me doava inteira
A uma cólera disfarçada de amor?

Achei que era sentimento.
Mas nem me via.
Aniquilei-me,
Como mulher, como ser humano.

Eu estava doente.
Eu... nem existia.

Agora, basta!

Vai!
Adeus, adeus, adeus!
Vá sem olhar para trás!
Siga com os teus.
Boa sorte...

Porque agora,
Agora eu vou me reencontrar.
Vou me amar.
Vou me adorar.
Vou ser fiel a mim mesma!

E todos os dias, direi,
Até o último dia:


– Prometo ser fiel a mim,
Me amar e me respeitar,
Na alegria e na tristeza,
Na saúde, na pobreza,
E que nem a morte,
Nem um novo amor,
Me separe de mim.
Amém.


Autora: Isabel van Gurp


segunda-feira, 22 de julho de 2024

Vamos embora para ontem


 

Vamos embora... vamos,
Não sei para onde, não sei pra quê.
Talvez para ontem,
Onde tudo era você e eu,
Onde o sorriso era fácil,
E o futuro, um segredo bonito de esconder.

Vamos embora... vamos,
Buscar no passado nosso futuro,
Buscar esperança no brilho do olhar,
Sonhar, sonhar, sonhar —
Só nós, nós dois,
Que um dia fomos tudo, fomos mais.

A paixão nos incendiava,
Corria em nosso sangue,
Água nenhuma apagava,
O fogo dos nossos corpos em brasas,
As velas acendiam o que o amor já queimava.

Éramos nós, o resplendor,
Éramos nós, o calor,
As almas misturadas no gozo,
Onde o inferno era apenas um ponto de partida.

A noite se confundia com o dia,
A lua nos acordava,
E os lobos uivavam a nossa dança,
Num canto de paixão sem rumo,
Sem chão, sem teto, só amor.

Vamos embora... vamos!
Esquecer o presente, viver a eternidade,
Pegar meus sonhos, pegar sua mão,
E ser ninguém no papel do mundo,
Mas juntos, ser alguém feliz.



Autora 

Isabel van Gurp


terça-feira, 16 de julho de 2024

Pedras

 



Pedras no Caminho

Há pedras no caminho.
Sim, muitas pedras.

Encontramo-las no correr dos dias:
Algumas, arremessadas contra nós;
Outras, a favor.

Elas nos desmontam,
Nos ferem, nos magoam, nos aniquilam.

Reze uma Ave Maria.
Guarde-as.

Algumas batem e retornam,
Outras permanecem,
Outras se desmancham ao longo do tempo.

Há pedras que são lavas 
Explodem como vulcões em nossas vidas.
Em sua passagem, erguem escudos e pavores.

Reze uma Ave Maria.
Guarde-as.

Algumas pedras desviam caminhos,
Outras, em metamorfose, fazem nascer o saber.
E muitas, semeiam o conhecer.

Dentro do ventre, tornam-se crias.
E, por conceber, acolhem.
A semente germina:
Um novo ser se desenha.

Dissemina, entremeia.
Nos seios, transforma-se em pedras de leite,
Banquete de vida
À boquinha faminta que amamentarás.

Guarde-as.
Reze uma Ave Maria.

As pedras que são lapidadas
Transformam-se em brilhantes.
As mais preciosas são dádivas da natureza:
Do nascimento ao envelhecimento,
Lapidadas pela vida,
Até tornarem-se diamantes eternos.

As pedras vêm e vão 
Não importa se jogadas, colhidas, plantadas,
Brotadas ou ofertadas.

Jamais atires a primeira pedra.

Reze uma Ave Maria.
Guarde-as.

Cada uma delas.

Com elas construirás fortalezas,
E talvez um império.

Guarde uma a uma,
Pois são joias raras,
Mesmo aquelas que queimaram tua pele,
Que chegaram como poeira, gás, cinza ou areia.

Guarde-as.

Sê alquimista:
Com navalha fina, esculpe diamantes,
Transmuta dor em sabedoria.

Minhas pedras — todas as que encontrei 
Guardo-as em minha galeria.

Pois será com elas
Que construirei meu castelo.

Enquanto isso, rezo:
Uma Ave Maria.



Autora: Isabel van Gurp













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