Está Partindo
Leva contigo a saudade.
Faz-me esse favor:
Não deixes nada para trás
Nem rancor, nem ódio,
Muito menos o sofrimento.
Leva tudo.
Leva também o amor que te dei.
Vai.
Vai sem olhar para trás,
Pois eu, enfim, olharei para frente.
No espaço vazio,
Vou buscar a mim mesma.
Vou me reencontrar.
Sim, eu me perdi,
Tentando te agradar
Em cada contratempo,
Te amando mais do que a mim,
Sem reservas,
Em tempos de guerra.
Fui à luta por ti,
Esqueci de lutar por mim.
Meu amor-próprio? Não existia.
Meu orgulho? Morto.
Minha autoestima? Esquecida.
Enfim, nada... apenas você.
Entre tantas palavras sem brilho,
Era tua serva,
Escrava de uma paixão,
Afundando-me em rios,
Desesperada,
Afogada em mim mesma.
Morrendo aos poucos,
Por um fascínio que ousei chamar amor.
A culpa não é tua.
Não! Jamais!
Nem a dor eu te atribuo.
Fui eu
Fui eu quem te amou mais do que a mim.
Fui eu quem se esqueceu,
Fui eu quem deixou de lutar,
Fui eu quem parou de se amar.
Me entreguei,
De corpo aberto,
Sem medo, sem freio, sem limite.
Minha vida era tua.
Minha missão:
Te fazer feliz.
Mas como?
Como fazer alguém feliz,
Quando nem sabia ser feliz comigo?
Quando me doava inteira
A uma cólera disfarçada de amor?
Achei que era sentimento.
Mas nem me via.
Aniquilei-me,
Como mulher, como ser humano.
Eu estava doente.
Eu... nem existia.
Agora, basta!
Vai!
Adeus, adeus, adeus!
Vá sem olhar para trás!
Siga com os teus.
Boa sorte...
Porque agora,
Agora eu vou me reencontrar.
Vou me amar.
Vou me adorar.
Vou ser fiel a mim mesma!
E todos os dias, direi,
Até o último dia:
– Prometo ser fiel a mim,
Me amar e me respeitar,
Na alegria e na tristeza,
Na saúde, na pobreza,
E que nem a morte,
Nem um novo amor,
Me separe de mim.
Amém.
Autora: Isabel van Gurp