Entre as tuas mãos
O teu último suspiro
eu esperei,
segurando tuas mãos
entre as minhas,
sentindo a força delas
em toda a minha vida.
As tuas mãos…
as mesmas que um dia
tocaram o corpo de uma mulher
e a fizeram se apaixonar,
se entregar a ti
para sempre.
As tuas mãos…
as mesmas que me trouxeram ao mundo,
que cortaram meu cordão umbilical
e me fizeram chorar
pela primeira vez.
Foi nelas
que fui levada ao encontro
da mulher que me carregou no ventre:
minha mãe,
minha amiga,
a outra parte dessa família
de seis mãos entrelaçadas.
Nas tuas mãos
coube meu corpo franzino.
Eram abrigo, eram peito.
Nos teus olhos,
um orgulho silencioso,
a certeza de um afeto
único, eterno:
o amor entre pai e filha,
que nada no mundo poderia desfazer.
Nas tuas mãos
cresci como uma flor delicada.
Protegida do vento,
do frio,
regada com carinho.
Nas tuas mãos
dei os primeiros passos.
Segura, confiante,
descobri o mundo
ao teu lado,
de mãos dadas,
em aventuras de infância.
Quando eu chorava,
quando cansava,
quando era dengosa,
nas tuas mãos
voltava ao colo.
E no teu abraço
o mundo podia acabar
que nada me atingia.
Tu eras meu herói,
minha redoma de vidro.
Nas tuas mãos
aprendi as lições da vida,
os sermões,
os acertos e erros.
Apontavas caminhos,
mostravas horizontes.
Nas tuas mãos
aprendi a andar de bicicleta,
ganhei impulso na cadeira de balanço,
subi mais alto sem medo
porque estava em boas mãos.
Teu olhar severo
nunca escondeu o carinho,
a cumplicidade,
o afeto de pai.
Eu era tua princesa,
quem trançava teus cabelos curtos,
colocava lacinhos
e ria dos teus risos
ridículos e tão nossos.
Nas tuas mãos
ouve minhas histórias
e contou as tuas.
Fui rebelde,
como toda adolescente,
mas sempre voltava,
entre as tuas mãos,
para teus conselhos,
para tua proteção.
E a vida seguiu.
Nas tuas mãos
fui entregue a outro homem,
num altar,
em outro amor.
Mas ainda assim,
nenhum lugar seria tão seguro
quanto às tuas mãos.
O tempo passou.
Envelhecemos juntos.
Nas festas, nos natais,
nos aniversários,
no dia a dia,
teus olhos sempre buscavam os meus.
E mesmo mulher, mãe, avó,
nas tuas mãos
eu permanecia princesa.
Mas hoje…
nas tuas mãos
eu segurei a despedida.
E vi o teu último suspiro.
Adeus, pai.
Nas tuas mãos,
sempre estarei.
Autora: Isabel van Gurp
Amsterdam (1637-1712) |
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