Terra à Vista: Poema de Quem Parte, Poema de Quem Fica
"Desembarcar não é apenas pisar em solo novo, é soltar âncoras invisíveis e navegar por dentro de si."
Somos Nós Aqui
Somos nós, aqui,
Com passaporte,
Com nomes e fotos,
Na busca de uma identidade
Chamada eu.
Somos nós, ali,
Longe de quem amamos,
Separados pelo oceano,
Distantes dos meus
E indiferentes dos seus.
Estamos aqui.
Caí na fonte doce que brota saudade,
Que chora em rios
E transforma esse pingo d’água
Na lágrima que queima os olhos,
Escorre antes de ser crua,
Antes de ser meu, o soluço,
Lacrimejando em mar,
Na ebulição das lagoas,
No vai e vem das ondas em fúria,
Levado por uma canoa...
Que me cerca em ilhas,
Dentro de mim mesma.
Preciso navegar.
Somos nós que tentamos ter.
Nós que queremos crescer,
Quem sabe, entender.
E sem pedir muito,
Oscilamos no dia a dia
Do nosso viver.
Conhecemos nossos limites,
Superamos, reencontramos larvas,
Esbarramos nas ruas
Que formam grutas
Dentro do nosso ser.
Profundamente, o desconhecido:
Amamos.
E muitas vezes: odiamos.
Dentro das nossas cavidades,
Sai de nós um pouco do eu,
Que parte para sempre
Numa viagem sem guia.
Uma partida do porto.
Nós e nós — nos refazemos
Em nossas histórias,
Desfazendo pontos,
Sem esquecer de onde viemos.
Altruístas no estado de ser,
Enfim, filantrópicos para sobreviver.
Olhamos este mundo
Sempre um leque.
Com nossas vozes, assopramos.
Com toque estranho,
Acenamos com o vento.
E o xeque-mate de um soldado de papel,
Que marcha...
Enfrentamos diferenças
Com aprendizado de criança,
Aprendendo a falar em silêncio.
Buscando o tal do sucesso,
Reinventamos histórias.
Entre as mãos, criamos calos,
Na busca do acerto
E do acento.
Um pouco a mais,
Com vírgulas a menos.
Sem ponto final.
A esperança
É o olho da felicidade
Que acalma os prantos.
E os navios partem,
Em águas turvas.
Desembarco, enfim, em oceano
Que me separa da minha pátria.
Terra à vista.
Autora: Isabel van Gurp