quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Um conto




Um conto

Vou cruzando meu caminho
Em pontos,
Traçando meu mapa.

Em cada esquina,
Faço um conto.

E penso nas fadas,
Para sublinhar os desencontros
E acentuar, em reflexo,
As brincadeiras do destino,
As causalidades dos reencontros.

Busco, no nó,
O fio perdido.
Cuidadosamente, emendo
Os traços dos pontos.

E ponto por ponto,
Faço um manto —

Uma colcha de retalhos,
Sublinhada com laços.

E a cada passo, encontro:
Um chão,
Um fio,
Um mapa.

Meu destino,
Feito pelas minhas mãos.

Cada passo que a gente dá costura um pedaço do que somos.
Às vezes, seguimos pontos invisíveis… 

outras vezes, pegamos de volta um fio perdido e recomeçamos.
A vida é bordada por nossas mãos 

Ponto por ponto, conto por conto.

Aqui está o meu

Depois eu conto.




Autora: Isabel van Gurp

Filha do sol

Quem é filha do sol
Não se queima na terra.
Se bronzeia na sombra,
Deixa a alma ferver
Aos cinquenta graus
E bebe água de coco
Para matar a sede.

Sente-se um peixe fora d’água
Quando chove,
Mas nunca deixa de nadar.

Caminha com os pés descalços
Sobre brasas e calçadas,
E acende a si mesma
Mesmo quando apagam as luzes.

É de fogo 
Mas não incendeia por vingança.
Aquece, ilumina,
E arde no próprio ritmo.

O que chamam de exagero,
Ela chama de vida.
O que chamam de drama,
Ela chama de intensidade.

Quem é filha do sol
Não foge do espelho,
Não espera resgate,
Não teme tempestade.

Ela não precisa de céu claro:
Ela é o amanhecer.


Autora: Isabel van Gurp

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Meu Presidente




Lavou a alma na bandeira,
Tremulou em passos lentos
O orgulho e a paixão de ser
Que o faziam filho da terra.

Escudou-se com aquele pano,
Se armou de couraça.

E mais uma vez,
Deixou cair no corpo desfalecido
A coragem de quem nunca nega
Quem tu és.

Cobriu-se em cores, com um manto.
E se foi… aos poucos,
A cada passo...
Sentindo-se partir —
E, ao mesmo tempo,
Ficar entre nós.

Beijou-a mais uma vez.
E chorou.

O espírito d’gente vagou
Pelas pequenas ruelas,
Passou em sombras,
Refletindo nos muros a solidão
De quem parte só.

Escoavam, no labirinto,
Palavras...
A fé, a crença e a pátria.

Olhou mais uma vez para o alto.
De longe —
E parecia tão longe.
Tão distante. Tão real.

Lá estava o reflexo da armadura
Surreal,
Que batia ao vento,
Hasteada no mastro.

Pensou:
— Fui guerreiro, e lutei por ti.

Nós pensamos:
— Por nós.

Seus pensamentos foram aplaudidos,
De pé, em glória.
Seus atos, reconhecidos por nós.
Idolatrados pela memória.

E o preço foi alto.
E o agradecimento,
Para sempre,
Estará na história.

Mas,
Fincando na dor da democracia
Que se perdia entre as paredes das grades,
Sentiu-se só na multidão.

Gotejava sangue.
Enodava o pendão.
E na estrela,
Estampa-se o seu rosto 

De um homem nobre, senhor.
Estendido no orgulho,
Seu brio de ser
Nos orgulha também.

Nobre cavalheiro,
Perdão, meu presidente.
O preço encarece.

Benfeitor dos seus atos,
Digo mais uma vez:

— Perdão! Perdão!
Presidente Lula,
O povo agradece
Sua luta.



Autora: Isabel van Gurp (com alma, coragem e gratidão em cada verso) 









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