O Sol Que Brilha Na Minha terra
O sol que brilha na minha terra
nasce atrás do horizonte,
nas águas claras desperta,
desenhando morros, pontes e fontes
Colorindo as favelas com suas cores
vermelhas, amarelas, alaranjadas
vem aos poucos, alastra o céu,
subindo ao altar como um deus,
dourando o oceano,
avermelhando o azul do mar.
Nasce do ventre das ondas,
como um deus que ressurge em chama,
faz do além um altar
onde o mundo inteiro se inflama.
Pinta as águas de cobre e laranja,
derrama fogo nas serras,
e cada raio que avança
é reza viva sobre a terra.
O sol da minha terra nasce e desperta.
Abre os olhos do dia com dedos de ouro,
espalha sobre os morros sua manta aberta,
escorre pelas vielas, cancelas
e doura os telhados tortos.
Aos poucos conquista os morros
com suas cores alaranjadas,
espiritualiza o verde dos matos,
alegra os pássaros
que cantam, assobiam,
dão vida à atmosfera,
aquecem a terra.
Invade com seus raios
as frestas das janelas, cúbicos das quebradas
alastrando-se pelas ruas da minha cidade.
Desce leve, passa rente,
bate forte no peito da gente.
No brilho da lata, no trem, no sinal,
há poesia em cada quintal.
Quem ainda dorme,
com seus pecados, fome e segredos,
foge da luz
mas o sol rasga a neblina
e renasce, altivo e inteiro.
O sol que brilha na minha terra
acorda o moleque do lado da laje,
a mãe solo no barraco,
espalha clarão nas calçadas da feira.
Ele não nasce quadrado,
não teme a sombra,
ri das nuvens que o desafiam,
atravessa a tempestade,
cria arco-íris de alegria.
O sol do meu Rio é marrento, esperto,
bate de frente, não foge ao perigo,
ignora a fumaça, rasga as cinzas,
faz a razão um samba bonito.
Não conhece o tédio,
nem se prende ao relógio:
nasce sempre um sorriso
vence o medo e encontra um jeitinho
O sol da minha terra tem alma,
fala a língua da esperança,
anda descalço nas ruas,
brinca de luz com as crianças.
Invade os becos, brinca de rei,
faz da miséria um bloco, um desfile, uma lei.
Nos barracos renasce em cada sorriso
porque o sol do meu Rio é puro improviso.
E quando o dia se despede,
com o peito vermelho no mar,
ele se curva sobre o morro,
escuta os aplausos,
e aos poucos se derrete
atrás do infinito
para, em silêncio,
Ao ver a lua passar
Autora: Isabel van Gurp

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