sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Se um Dia Eu Voltar







 Se um Dia Eu Voltar


Se um dia eu voltar,
não voltarei pelo azul do mar,
nem pelo sol escaldante
que, no auge do verão,
queima minha terra sem piedade
e deixa a areia da praia em ebulição,
o asfalto da cidade fervendo
como se fosse brasa,
tostando os pés nus
sem compaixão.

Se um dia eu voltar,
não voltarei pela beleza sem igual,
aquela que faz meu Rio
ser pátria tão idolatrada,
cantada em versos e prosas,
clamada em samba e carnaval.

Se um dia eu voltar,
voltarei por uma avenida
colorida, viva,
repleta de sonhos, alegrias,
palhaços e arlequins 
histórias contadas em ritmo,
que sempre terminam
numa quarta-feira
que chamam de cinzas.

Voltarei pelo cheiro da chuva
que cobre os morros,
que desce nervosa pelas ladeiras,
arrastando tudo com sua força,
deixando pra trás... nada.
Nada 
para aquela gente que perde tudo
nas chuvas de verão,
menos a alegria de viver
e recomeçar.

Se um dia eu voltar,
voltarei por uma escola animada,
nascida do morro,
onde o povo, sem nada,
fabrica sonhos de ouro e beleza.

Voltarei para tremer nesse ritmo quente
que queima os pés na areia da praia,
sem dó,
que faz qualquer um sambar.

Voltarei para entender
por que essa gente 
mesmo perdendo tudo no temporal,
mesmo vendo a esperança levada pelas águas 
ainda vai para a avenida,
dança, canta e sorri.

São felizes,
talvez não por muito tempo,
mas são.

Se um dia eu voltar,
voltarei por aquela multidão
que segue, cegamente,
num ritmo frenético,
com roupas coloridas,
pagas com sacrifício,
com suor e coragem.

Mesmo sem nada,
cantam a felicidade,
por algumas horas,
em alguns minutos,
ou no relâmpago de um segundo
que toca minha saudade,
enche meus olhos,
e me faz lembrar 

que eu sou parte dessa gente,
que muitas vezes, sem nada,
segue em frente.


Autora: Isabel van Gurp 



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