Espanha - Valencia
Às Levas
Envolta no vento,
deixo a areia escorrer pelas minhas mãos.
Envolta no tempo,
deixo a vida escoar nas horas,
sem palavras,
às levas.
Tem dias que passo bêbada,
tentando equilibrar os passos da minha vida.
Bebo água para lavar a alma,
quando odeio meu corpo.
Uso álcool
para curar feridas invisíveis
dentro de mim.
Outras vezes me entrego à estrada,
me jogo no chão,
viro fado,
amordaço no silêncio
das lágrimas.
Inundo a escuridão,
caminhando às cegas,
às levas,
pelos sentimentos
que me atropelam pelas ruas.
Reconheço a solidão
como autora do meu eu.
Nua,
fujo da lenda da felicidade,
do existir sem sustentação,
sem credibilidade dos meus.
Preciso de pílulas,
às levas,
uma a mais, e outra,
para sorrir,
ou fingir ser feliz.
Afinal,
não sei mais quem sou.
Ando de pernas trocadas
por aí,
entre sombras e fantasmas,
numa euforia comprada.
Uma dose de coca
misturada em tantas,
já não reconheço o pó,
mas sinto meu sangue ferver
quando mistura aspirina.
Às levas,
tem outros dias
que me drogo para sair de mim,
para ver o mundo se desinclinar,
de altos e baixos,
baixos e altos.
Eu sei:
meus dias estão contados.
Mas nada faço com eles.
Sou mais um dado,
um número vago,
um alucinógeno de palavras e atos,
voando sem destino,
seguindo por um caminho
que não tem volta.
As portas se fecham para sempre,
sem retorno,
mas com remorsos.
E o ciclo da vida,
no meu corpo cansado,
se confunde com a morte.
Por uma overdose.
Autora: Isabel van Gurp
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