sábado, 30 de agosto de 2014

Às Levas


Espanha - Valencia 


Às Levas

Envolta no vento,
deixo a areia escorrer pelas minhas mãos.

Envolta no tempo,
deixo a vida escoar nas horas,
sem palavras,
às levas.

Tem dias que passo bêbada,
tentando equilibrar os passos da minha vida.
Bebo água para lavar a alma,
quando odeio meu corpo.

Uso álcool
para curar feridas invisíveis
dentro de mim.

Outras vezes me entrego à estrada,
me jogo no chão,
viro fado,
amordaço no silêncio
das lágrimas.

Inundo a escuridão,
caminhando às cegas,
às levas,
pelos sentimentos
que me atropelam pelas ruas.

Reconheço a solidão
como autora do meu eu.
Nua,
fujo da lenda da felicidade,
do existir sem sustentação,
sem credibilidade dos meus.

Preciso de pílulas,
às levas,
uma a mais, e outra,
para sorrir,
ou fingir ser feliz.

Afinal,
não sei mais quem sou.
Ando de pernas trocadas
por aí,
entre sombras e fantasmas,
numa euforia comprada.

Uma dose de coca
misturada em tantas,
já não reconheço o pó,
mas sinto meu sangue ferver
quando mistura aspirina.

Às levas,
tem outros dias
que me drogo para sair de mim,
para ver o mundo se desinclinar,
de altos e baixos,
baixos e altos.

Eu sei:
meus dias estão contados.
Mas nada faço com eles.
Sou mais um dado,
um número vago,
um alucinógeno de palavras e atos,
voando sem destino,
seguindo por um caminho
que não tem volta.

As portas se fecham para sempre,
sem retorno,
mas com remorsos.

E o ciclo da vida,
no meu corpo cansado,
se confunde com a morte.

Por uma overdose.




Autora: Isabel van Gurp 


































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