domingo, 24 de agosto de 2025

Livres (O braço, a alma e o povo brasileiro)

 



O braço, a alma e o povo brasileiro

Estão nas ruas,
Contra o golpe.

O sangue que jorra no chão
É vermelho 
A mesma cor da bandeira
Que ostenta a estrela:
tão bela,
tão reluzente,
que brilha na noite,
nas cores que queimam
a memória dos companheiros
que morreram nos porões da ditadura.

Não foram esquecidos.
Jamais.
Eles estão entre nós.

O caminho busca a verdade,
o tempo não nega:
a certeza de que democracia e liberdade
estão entre nós.
E serão sempre
o recomeço
de um país livre,
igual, digno e soberano.

A estrela que brilha esta noite
não é de um homem,
nem tão pouco de uma mulher,
mas de um povo
que luta para ser livre.

Essa certeza é o direito:
a democracia
sempre vencerá.

Os arrogantes,
o ódio,
os que clamam pelo fim,
morrerão gritando.

Mas o fim será a nossa vitória:
ser homens,
ser mulheres,
ser livres.

A estrela somos nós 
tão livres em pensamento,
decidindo a nossa história.

Não vai ter golpe!





Autora: Isabel van Gurp

sábado, 23 de agosto de 2025

Em Carne Viva





Em Carne Viva 

Sinto meu corpo flutuar em tuas mãos.
Tuas carícias derretem minha pele,
me deslizo em teus dedos,
perco-me em cada toque.

Minha pele, ao enroscar na tua,
acende brasas.
Sou chama.
Sou carne viva.

Ardo de paixão.
Teus beijos 
partículas em erupção,
desejos que escapam da boca
como vulcões incendiando o ar.

Sinto-me inteira
consumida em tua força.
Teu beijo abrasador
deixa em mim vestígios de fogo,
queimam-me os sentidos,
deixam-me febril.

Mais uma vez,
não sou dona de mim.
Sou cativa do teu olhar mágico,
hipnotizada pelos teus feitiços.
Rendo-me ao teu poder,
à alquimia do teu toque,
à embriaguez da tua boca.

E quando me abandonas,
sou cinza, sou vazio, sou vento.
Mas basta tua volta 
um gesto, um sopro,
um simples toque da tua mão,

E de novo floresço em chamas,
sou chama que se entrega,
sou fêmea que arde.

Em carne viva,
sou tua.


Autora: Isabel van Gurp 





Na Sapolândia entre Patos e prosas


 




Então era uma vez.......
Na SapoLandia 

Então era uma vez.......

Então, era uma vez…

Durante e depois da minha gravidez, perdi a coragem de usar saltinhos.
Primeiro, porque o barrigão não combinava com salto alto.
Sentia-me insegura — talvez fosse só coisa minha, mas parecia impossível equilibrar barriga e salto.

Depois veio a fase das crianças no colo.
E salto alto? Não, obrigada.
Eu só conseguia imaginar a cena: perder o equilíbrio, cair, me machucar… ou pior, machucar meus filhos.
Não arriscava.

Logo depois, chegou a correria atrás dos meus anjinhos (e como correm!).
Nessa fase, salto alto não tinha lugar algum.
A vida corrida de mãe de dois, dona de casa atrapalhada com tarefas que nunca terminam…
Tudo isso afastava ainda mais qualquer prazer de pensar em sapatos de salto.

Veio também a fase das escolas, da bicicleta apressada,
do coração partido por deixar um bebê no berço para levar outro na aula.
E, claro, as noites mal dormidas de mãe com bebês doentes.
Quem teria forças para saltinhos?
Só de imaginar, já era um pesadelo.

Sim, houve vaidade sufocada pelo cansaço, pelo tempo, pelo peso da maternidade.
Mas,  confesso  tenho saudades dessa época.
Ela passou, como tudo passa.
Os filhos cresceram.

E então… comecei a reparar nos saltinhos das minhas amigas.
Olhar-me no espelho.
Perceber que não havia mais barrigão, nem crianças para correr atrás.
Só eu.
E um desejo novo  ou talvez antigo de voltar a ser feminina.

Não apenas mãe.
Mas mulher.

Não aquela mulher de seios cheios de leite, que acordava de madrugada para alimentar um bebê.
Não a mãe orgulhosa apenas pelas conquistas dos filhos.
Mas a mulher que também quer se maquiar, emagrecer, se redescobrir.
Essa, que ficou escondida alguns anos, guardada dentro de mim.

E foi então que comprei um saltinho.
Meu primeiro, depois de muito tempo.
Ainda estranho. Ainda um desafio.
Quase uma reaprendizagem: voltar a andar, voltar a me ver.
Confesso: precisei de coragem, até para comprá-lo.

Gastei um dinheirão… e escondi.
Vergonha, talvez, de ter investido em mim, em vez de em um Nintendo novo para os filhotes (sim, eles já têm DS, Lite, DSi…).
Mas comprei.

Ainda treino em frente ao espelho, com a porta fechada.
Já até pensei em usá-lo numa festa,  mas ele ficou na bolsa.
E, mesmo assim, eu me senti feliz.
Feliz por ter um saltinho de volta.
Feliz por reencontrar a mulher que existe em mim.








 







































Entre o Calor e a Vida



Me levem para o sol,

sentir o calor da minha alma
invadindo o meu corpo,
que aos poucos me acalma.

Aos quarenta graus,
sinto o mormaço nas sombras,
torno-me consciente:
eu não nasci aqui,
eu não sou daqui...
mas sinto-me feliz
com o sol espelhando meu rosto.

Me levem para o sol,
sentir a quentura do meu corpo,
queimando minha pele,
bronzeando minha vida,
fazendo nascer dos meus poros
um suor de alegria.

Me levem para o sol,
onde a luz dissolve minhas sombras,
onde o tempo se rende em claridade,
onde cada raio me devolve à essência
de quem eu sou.

Me levem para o sol,
porque ali sou inteira,
porque ali sou livre,
porque ali minha alma floresce
como chama eterna
ardendo, brilhando, vivendo.


Autora: Isabel van Gurp

domingo, 17 de agosto de 2025

Meus delírios às cegas

 




Meus pensamentos

se deitam no teu corpo,
escorrem por cada vão,
descem por curvas secretas
onde minha sede pousa.

Atravesso a distância,
desfaço fronteiras:
sou tua, inteira,
carne que chama,
fogo que se oferece.

Nua,
viajo mais rápido que a luz,
me lanço em teus braços
como quem morre de prazer
e renasce em delírio.

O calor do teu toque
é labareda na minha pele,
meu grito se cala em teus beijos,
mas arde no fundo da garganta.

Minhas mãos procuram tua sombra,
meu corpo escreve poemas
na tua pele em brasa,
palavras que não digo
gemem entre suspiros.

Meus sentidos rodopiam,
inebriados, cegos,
numa vertigem sem fim.
Sou incêndio,
sou água que se abre,
sou vulcão que se entrega
ao abismo dos teus olhos.

Na cama das estrelas,
teu corpo e o meu
se fundem em constelações,
e o universo inteiro
geme conosco.

Eu e tu,
sem nome,
sem tempo,
apenas desejo
em carne acesa.

Autora: Isabel van Gurp


domingo, 10 de agosto de 2025

Se vão em grãos



 Se vão em grãos

Se vão em grãos,
levados pelo sopro dos ventos,
como pensamentos soltos
que a alma esqueceu de guardar.

Semeiam em teia invisível,
sementes que viajam,
tocam o ar,
descem nos silêncios
da terra fértil.

Caem em levadas,
descansam no útero da Terra-Mãe,
que os acolhe no ventre úmido,
nutrindo o embrião
com o leite das raízes
e o calor do seu coração.

O poder do ciclo,
endosperma sagrado,
escorre pelas mãos dos deuses,
que giram o mundo
como quem molda um vaso
sobre a roda do tempo,
cambaleando entre auroras e crepúsculos.

Na arte de recriar a vida,
se vão em grãos,
jorrados como pérolas ao vento,
nus em tegumento,
carregando em silêncio
o segredo do renascer.

Transformam-se em cores
antes de se entregarem ao fim.
Bruxos e cogumelos
erguem-se do chão,
fungos que dançam
nas madrugadas úmidas,
lembrando que até na sombra
há criação.

Brotam por si,
sem mestre ou dono,
arte pura em apelo,
coexistência e pulsar,
pintando na tela da natureza
o retrato do eterno.

E assim segue a viagem da vida,
recomeço de um fim,
ciclo que se refaz
mesmo sem elos,
pois no silêncio da terra,
cada grão que se vai
é também um grão
que volta.

Autora: Isabel van Gurp


sexta-feira, 25 de julho de 2025

Assim, me reencontro





Assim, me reencontro

E assim,
me reencontrei
no teu olhar.

Como?

Na gota do sol,
no brilho da chuva.

És minha alma gêmea,
a quem venero
em todas as vidas.

Como?

Com teu toque
que me faz fêmea,
enraizas em mim
a terra-mãe,
florificando meu solo,
desabrochando…

Como?

Em prosas,
como rosa aérea.

Tu me fazes mulher.
Eu te faço homem.

Como?

Com uma prece pagã,
nas noites ensolaradas
de nosso aconchego,
onde o calor se dissolve
entre os lençóis.

Me apego
gritando, gemendo, amando.

O tempo dança sobre a pele,
as bocas queimam em gemidos,
desejos que não se apagam
murmúrios entre gritos 
que se arrastam pelos pergaminhos
da nossa cama,
para sussurrar:

Te amo.

Riscos e risos
de corpos dançantes,

Como?

Com meu corpo
que escreve na tua pele
o que minha boca
não ousa dizer 

em suspiros,
que dançam no escuro.

Segredos que queimam em giros,
apagam as fogueiras das entranhas
e reacendem nas artimanhas.

E então,
assim,
me reencontro.



Autora: Isabel van Gurp