Então, era uma vez…
Durante e depois da minha gravidez, perdi a coragem de usar saltinhos.
Primeiro, porque o barrigão não combinava com salto alto.
Sentia-me insegura — talvez fosse só coisa minha, mas parecia impossível equilibrar barriga e salto.
Depois veio a fase das crianças no colo.
E salto alto? Não, obrigada.
Eu só conseguia imaginar a cena: perder o equilíbrio, cair, me machucar… ou pior, machucar meus filhos.
Não arriscava.
Logo depois, chegou a correria atrás dos meus anjinhos (e como correm!).
Nessa fase, salto alto não tinha lugar algum.
A vida corrida de mãe de dois, dona de casa atrapalhada com tarefas que nunca terminam…
Tudo isso afastava ainda mais qualquer prazer de pensar em sapatos de salto.
Veio também a fase das escolas, da bicicleta apressada,
do coração partido por deixar um bebê no berço para levar outro na aula.
E, claro, as noites mal dormidas de mãe com bebês doentes.
Quem teria forças para saltinhos?
Só de imaginar, já era um pesadelo.
Sim, houve vaidade sufocada pelo cansaço, pelo tempo, pelo peso da maternidade.
Mas, confesso tenho saudades dessa época.
Ela passou, como tudo passa.
Os filhos cresceram.
E então… comecei a reparar nos saltinhos das minhas amigas.
Olhar-me no espelho.
Perceber que não havia mais barrigão, nem crianças para correr atrás.
Só eu.
E um desejo novo ou talvez antigo de voltar a ser feminina.
Não apenas mãe.
Mas mulher.
Não aquela mulher de seios cheios de leite, que acordava de madrugada para alimentar um bebê.
Não a mãe orgulhosa apenas pelas conquistas dos filhos.
Mas a mulher que também quer se maquiar, emagrecer, se redescobrir.
Essa, que ficou escondida alguns anos, guardada dentro de mim.
E foi então que comprei um saltinho.
Meu primeiro, depois de muito tempo.
Ainda estranho. Ainda um desafio.
Quase uma reaprendizagem: voltar a andar, voltar a me ver.
Confesso: precisei de coragem, até para comprá-lo.
Gastei um dinheirão… e escondi.
Vergonha, talvez, de ter investido em mim, em vez de em um Nintendo novo para os filhotes (sim, eles já têm DS, Lite, DSi…).
Mas comprei.
Ainda treino em frente ao espelho, com a porta fechada.
Já até pensei em usá-lo numa festa, mas ele ficou na bolsa.
E, mesmo assim, eu me senti feliz.
Feliz por ter um saltinho de volta.
Feliz por reencontrar a mulher que existe em mim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário