quarta-feira, 4 de junho de 2025

Ervas Daninhas "mato"




As plantas que eu mais amo
São as ervas daninhas
Que enfeitam o jardim do mundo
Com um grande toque
De exuberância
Nas mãos da natureza

O mato é nobre
Que poucos sentem sua beleza
Enchendo os vasos do nosso ser
Que esconde a singeleza do crer

Ali, me deito na sombra
Entre galhos e folhas macias
Ouço os risos dos pássaros
Vejo borboletas em coreografias

O mato, meu refúgio sereno
É brinquedo, rede e cantiga
Faço trilhas de pés descalços
Minha alma se embriaga e abriga

Brinco com o vento entre folhas
Pulo poças como quem dança
No mato, sou criança outra vez
Sou raiz, sou esperança

Ali não há pressa, nem hora
Apenas o verde que embala
É lazer, é alegria, é agora
É o mato que me embala

E as ervas daninhas, coitadas,
Chamadas de pragas, sem razão
São poesia que brota escondida
Na terra livre do meu coração.



Autora: Isabel van Gurp

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Poema em Cliques






Nas minhas caminhadas,
olho a terra
e carrego uma lente.

Fotográfica.

Um pássaro... eu sinto:
é alma que voa
entre os meus cliques.

Meu olhar.

Seria eu pequena demais
para guardar este instante?
Mas, com um simples ato 
com um piscar 
já me sinto feliz.

Tiro uma foto.

Enxergar como a vida é bela...
Somos uma célula minúscula
nesta imensidão:
céu, terra e mar.

Perdi minha alma
em gotas que transbordaram o rio.
E ele, sereno,
seguiu para o mar 
afogando-se no oceano
com os meus soluços.

Com tanta beleza para capturar...
Com meus cliques,
o mar virou tsunami.

Escrevi uma poesia
para correr nas águas
que passavam por mim.

Para salvar em fotos 
a exuberância da natureza.

Versos escorreram
como lágrimas doces.
Palavras navegaram
entre peixes e estrelas.

Na grandeza do mundo,
no fundo da imensidão,
me reencontrei.

A alma que perdi
tornou-se água,
virou correnteza,
virou beleza.

Minhas fotos,
meus poemas.


Autora: Isabel van Gurp 



segunda-feira, 26 de maio de 2025

Depois dos Cinquenta


Aprendi a ser gente

depois dos cinquenta.

Quando deslacei a vida
e, no baú das palavras,
encontrei…

A palavra mãe,
e a grandeza dos atos.
A minha questão de ser.
No meu entender...
ser gente.

Encontrei a palavra orgulho
— depois dos cinquenta —
e pude, enfim, compreender
o que é ser mulher.

Encontrei a palavra coragem
e entendi o valor de saber
perder ou ganhar
e seguir em frente,
sem medo,
porque a vida
ensina a vontade de ser.

Encontrei, sem medo e sem covardia,
os fantasmas que me perseguiam.
Em passos longos pela estrada,
olhei para todos
e os enfrentei com audácia.

Encontrei inspiração.
Depois dos cinquenta,
senti-me livre
para ser menina de novo.

Olhei no espelho,
e contemplei minha beleza
a beleza de ser mulher.

Encontrei a palavra beleza
gravada na minha pele,
na minha essência.

Minha natureza me ensina
a viver feliz comigo mesma,
pois no meu corpo encontro
a resposta de quem sou:

uma mulher inteira,
depois dos cinquenta.

E no fundo do baú,
a palavra mais preciosa…
A que mais amei encontrar:

Amar.

Porque aprendi
finalmente
a me amar,
sempre.

Autora: Isabel van Gurp


domingo, 25 de maio de 2025

Reinvenção


Teu nome

que tantas vezes escrevi no papel
— eu queimei.

Transformei em cinzas,
mas depois colei pedacinhos
e voltei a escrever a carta.

Pensei que era possível te esquecer,
como quem apaga uma história
com um gesto,
com um ato.

Pensei em fazer da minha vida
um passado sem nome,
uma lembrança soterrada,
um livro fechado.
Ou… nada.

Mas era mentira.
Eu sei.

É impossível viver sem você.

Meu ar era teu oxigênio.
O suor da minha pele
era o calor das tuas mãos.
Minhas cordas vocais
precisavam do som dos teus lábios
para existir.

Minha alma
ela se deitava no teu corpo
e fazia de ti minha sombra.

Todos os indícios gritavam:
eu não respirava sem você.
Meu mundo se apagava
sem tua presença.

E sem você,
Eu pensei que eu era nada.

Ficou o vazio.
Ficaram os anos.
O amor vivido.

E por um instante,
quase se transformou em ódio.
Quase.

Mas isso
isso sim seria impossível.
Não há como converter um amor tão sublime
em repulsa.

Não.
Nem mesmo na dor mais crua.

As sobras…
guardei no baú.

Com as fotos,
os bilhetes,
e um pedaço de mim.

Entre os meus pertences,
rebatizei a dor.

E dei outro nome
a tudo aquilo que um dia me fez chorar:

Aprendizado.


Autora: Isabel van Gurp

Se um Dia Eu Perder Minha Alma








Se um dia eu perder a minha alma,
não a procurem no céu,
nem tão pouco no inferno.

Procurem minha alma nas letras 
lá, com certeza,
ela estará encurralada
entre os versos
que um dia transformei em poesia.

Se um dia eu perder a poesia,
é porque perdi a vida.
E com ela,
a minha alma.

Perdi o cheiro das fragrâncias.
Não sinto mais as rosas.
E não faço mais prosas.

Se um dia eu perder o poder do olfato,
perdi também o tato.
Não encontro mais o jardim,
nem o jasmim.

Se um dia eu perder
o poder de olhar,
é sinal de que perdi
o sentido de enxergar.

Estarei cega para sentir
o sol nascendo dentro de mim.

Se um dia eu não conseguir encontrar o amor
dentro do ódio,
é sinal de que perdi
a sensibilidade de ver
a poesia na humanidade.

Alguma coisa terá morrido em mim.

Creio que, então,
as palavras terão me deixado.
Perdi a delicadeza
de escutar o som das letras,
o toque dos cravos,
a leveza da vida.

Mas...

Se um dia você abrir um livro
e sentir que ele respira,
Se um verso te tocar
como quem beija a alma,
Se uma palavra se deitar nos seus olhos
como quem volta pra casa 

Então me encontrará ali.

Porque mesmo que eu parta,
estarei viva
na poesia que deixei

O livro será meu 

E se a alma é feita de palavras,
a minha,
sempre será poema.


Autora: Isabel van Gurp

Terra Sem Alguém



⚖️ Terra Sem Alguém



Tráfico de drogas
Crime hediondo
Que mata milhares de jovens,
Arrasa famílias inteiras,
Apaga sonhos, apaga nomes.

Sequestro
Crime sem defesa,
Que destrói uma casa,
Uma vida… ou muitas.

Assaltos, invasões,
Golpes em bancos, lojas, nas ruas
Transformam o país
Numa terra sem ninguém.

Mas há um crime pior
O mais cruel de todos:
Aquele que veste terno,
Senta em palácio,
Ergue bandeira sem pátria.

O crime dos políticos
Que estendem as mãos
E tiram do bolso de cada um de nós
A comida,
O remédio,
A dignidade.

Matam aos poucos
Nos corredores dos hospitais falidos,
Nas salas vazias das escolas.
Na fome cravada em cada esquina.
No silêncio cruel da ignorância.


Vítimas:
O povo.
Famílias inteiras.
Jovens sem futuro.
Crianças em becos e vielas,
Entregues à própria sorte,
Brincando com a crueldade.


Esse crime não usa armas.
Usa decretos.
Canetas.
Falsas promessas.
Discursos em horário eleitoral.

E por isso é mais perigoso:
Porque destrói em silêncio.
Porque mata com descaso.
Porque rir no plenário
Enquanto o povo sangra no asfalto.


O crime dos políticos mata!
Mata com corrupção.
Com omissão.
Com a ganância
Que transforma homens em animais.

Mata com o abandono
Das escolas,
Dos hospitais,
Da saúde,
Da paz,
Da verdade.


Eles
Esses assassinos crueis de gravata
Fizeram do Brasil
Uma terra sem alguém.
Sem direitos.
Sem dignidade.
Sem futuro.

Eles
Que deveriam ser exemplo de honra
Nos deixaram à mercê da lama.

E por isso,
O povo grita:

Que paguem!
Que respondam!
Que apodreçam atrás das grades
Pelos crimes contra a vida,
Contra a pátria,
Contra todos nós.



Autora: Isabel van Gurp



Colaboradores