quarta-feira, 18 de maio de 2011

DISLEXIA, uma história e vários relatos

DISLEXIA





Um depoimento que eu fiz na comunidade Gravida e Mamãe na Holanda. 


Eu também quero deixar meu relato aqui que não tem nada haver com a otite mas no começo havia uma possibilidade de ser....
Minha filha Stella até os dois anos não falava   nada ou quase nada. É por causa do seu atraso na fala ela pode ir para o peuterspeelzaal um pouco mais cedo e também três vezes por semana. Nesse período ela já era acompanhada pela Fonoaudióloga e pelo Audiocentrum (um consultório aonde as crianças são testadas a surdez ou outros problemas como da fala) na Holanda. Enfim, conforme o tempo foi passando ela foi fazendo teste de audição (audiometria) para revelar alguma deficiência , e ela passou por vários especialistas. E todos os testes ela conseguia tirar de letra sem nenhuma indicação de anormalidade na audição, fora o atraso de fala seu desenvolvimento seguia normal e até acima da média. Ela já não usava fraldas antes dos 2 anos (a noite também), antes dos três ela pedalava sem rodinhas, antes dos 6 anos ela tinha todos os diplomas ABC de natação. Mas,  o seu progresso na fala continuava muito lento.
25 fev 
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invisível Isabel Cristina

No mesmo tempo a escola decidiu indicar Stella para CLUSTER 2 ou seja rugzak (CLUSTER  2 E RUGZAG SÃO ORGANIZAÇÕES QUE AJUDAM CRIANÇAS COM PROBLEMAS DE APRENDIZADO)  Mais baterias de testes foram feitos. Até a Stella receber o rugzak houve algumas melhoras no seu progresso tanto na leitura e quanto na fala mas os erros de gramática e pronuncia persistiam.
Bem, Stella tem o rugzak já quase um ano. Ela esta no grupo cinco sem ter repetido ano. Provavelmente ela vai para o grupo 6 no próximo ano.. Ela continua tendo erros na leitura, escrita e soletração.. Um belo dia conversando com uma amiga holandesa que tinha descoberto que seu dois filhos são disléxicos, ela me contou o que era afinal a  dislexia. Nesse dia acendeu uma luz....uma luz no túnel. Corri para Internet e fui procurar todos os sites sobre dislexia tanto em português quanto em holandês. Depois, ter lido e relido sobre o assunto descobrir que não só a Stella é disléxica que eu também sou....
A minha luta ainda não acabou porque a escola nega dar indicação a Stella para fazer o teste de dislexia porque ela é um rugzak kind. Meu marido prefere deixar a situação como esta porque ele acha que a Stella vai superar todos os problemas. Ele não quer rotular Stella. Mas, esse teste só vai ajudar ela no futuro. Porque você não esta disléxica...voce é disléxica. Não é uma doença, mas não existe cura. Mas, sim por ter avanço com ajuda apropriada.
25 fev 
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invisível Isabel Cristina

Eu fiquei meia revoltada com toda essa história porque todos os especialistas e a escola (incluido a cluster 2 ) que a Stella passou nenhum nenhum deles sugeriu ou indicou a palavra dislexia ao seu problema. Preferia colocar a culpa na mãe estrangeira.
Eu decidir fazer uma carta para escola, para fono e para pessoa que acompanha Stella com rugzak lamentando o fato dela não ter feito ainda o teste para dislexia.
Quando eu estava escrevendo meu relato, por várias vezes eu tive que parar para chorar....porque é muito difícil, a história da Stella da minha filha é a minha história....




A criança que é disléxico ela é muitas vezes considerada burra, sofre todos os tipos de brincadeiras de mau-gosto isso vai acompanha-la para os resto da sua vida.

 DISLEXIAhttp://www.dislexia.org.br/


Encontrei um trabalho muito interessante sobre dislexia

http://repositorio.esepf.pt/bitstream/handle/10000/372/TM-ESEPF-EE_MFernandaEstrela.pdf?sequence=1
DISLEXIA E POESIA

Roman Jakobson, em “Lingüística e Poética”, levanta a hipótese de que a dislexia pode estar na base de toda criação poética. Infelizmente, que eu saiba, não desenvolveu mais profundamente o tema. 

Muitos gênios da humanidade são tidos como disléxicos: Agatha Christie, Albert Einstein, Auguste Rodin, Charles Darwin, Hans Christian Anderson, Leonardo da Vinci, Lewis Carroll, Mark Twain, Michelangelo, Picasso, Rafael, Francis Bacon, Thomas A. Edison, Vincent Van Gogh, Walt Disney, William Butler Yeats. Não há provas, ninguém pôde estudá-los cientificamente. Mas é um belo consolo, diria mesmo que é um formidável estímulo.

Quando adolescente, levado por uma – esta sim! – formidável dificuldade de aprender, me auto-diagnostiquei como disléxico e pus-me a fazer uma série pesada de exercícios de dicção. Certo ou errado, o fato é que deixei de ser o estúpido da turma e passei a ser um dos primeiros ou, quando queria, o primeiro. Ao mesmo tempo, tornei-me, ou descobri-me, poeta. 

Poderia ser o fato de ter sido alfabetizado em escolinha de sítio que retardou meu desenvolvimento, mas a mudança abrupta que se operou em mim, mal descobri a linguagem, foi surpreendente. Não é feita de palavras vazias, apenas grandiloqüentes, a frase: “Quem descobre a linguagem, descobre o mundo.”

Descobri o mundo e a poesia. O poeta pensa por imagens, como o disléxico. Muitas vezes quero escrever “coisa”, e escrevo “ciosa”, troco “alma” por “lama”, “corpo” por “porco”. Muitas vezes as letras embaralham-se tanto que não consigo decifrar o que digitei. São inescrutáveis os caminhos da criação de uma imagem. Esse poderia ser um. Há muitas imagens que me vêm, claramente, desse embaralhar de letras ou fonemas. 

Não é famosa a escrita espelhada de Leonardo da Vinci? O espelhamento é característica da dislexia. Quando Michelangelo – disléxico e poeta como Leonardo da Vinci – ergueu o martelo contra o joelho de Davi, gritando-lhe: “Fala!”, estava dando-nos um índice da perfeição de sua arte, que só faltava falar, mas também outro índice, cifrado, da sua dificuldade de linguagem, de sua dislexia – tão criativa. Rodin era outro escultor obsessivo com a perfeição, como se quisesse fazer suas figuras falarem, como se o seu “Beijo” beijasse ou o seu “Pensador” pensasse. O “Pensador” é um ser que faz um esforço ingente para, justamente, pensar. Rodin estaria se auto-retratando como disléxico. 

São famosos os poemas de Lews Carrol, intrincados jogos verbais de alguém que esculpe com a linguagem, à procura da forma – o que a maioria dos poetas faz mais discretamente, como se não quisessem revelar a gênese de sua técnica, seu cérebro que pensa diferente. Van Gogh criou uma nova cor, descobriu tonalidades diferentes, na ânsia de retratar a sua maneira diferente de ver, que poderia ser a de um disléxico. Picasso, quando pintou as “Demoiselles d’Avignon” não estava apenas inaugurando uma nova forma de arte, o Cubismo, mas também a maneira de ler – quem sabe dislexicamente – a realidade. 

A dificuldade de Einstein para aprender não era apenas a de um disléxico que ainda não descobrira como usar criativamente o seu cérebro? Lembram-se do “estalo” de Vieira? O “imperador da língua portuguesa”, como o chama Fernando Pessoa, apenas descobriu a linguagem. A “Descoberta do Mundo” de que fala Clarice Lispector – que tinha a língua presa! – não é mais do que a descoberta da linguagem. 

Orfeu desceu aos infernos porque a sua arte tinha beleza divina. Dante Alighieri, o criador da língua italiana, clareava as sendas por onde o seu cérebro viajaria quando criou o seu “Inferno”, lembrando-nos de que o artista é um condenado à beleza, por maiores que sejam as suas limitações. Rodin em sua obsessão perfeccionista não terminou o portal do Inferno, que o levaria ao próprio Inferno. Rimbaud, mais um atormentado, também foi a “Uma estação no Inferno” quando arrebentou as válvulas da linguagem, criando a poesia moderna. 

Vou mexer com o meu amigo Vitor Martinello, o poeta de Bauru, que inventou uma instigante e crítica e lúdica “Lixeratura” arrombando os diques da linguagem como um menino que desmonta um relógio para ver-lhe as entranhas e descobrir-lhe a mágica. Não é outra a lição de Manoel de Barros, que, com os seus 91 anos de idade, continua arrombando as entranhas das palavras, virando-as do avesso para descortiná-las em sua forma virginal, larvar, paradisíaca, isto é, encantada. (Não estou dizendo que o Vitor seja um gênio, não exagero tanto; talvez, como eu, não apresente sintomas nem de dislexia.)

A dislexia é uma bênção e um tormento. Como a poesia, como a genialidade, não vem no mesmo grau, não atormenta igualmente, mas dá frutos. Não é preciso amaldiçoá-la porque nos atrapalha a vida. Pode estar nos abrindo caminhos maravilhosos para uma vida mais criativa. A intuição do criador pode ser muito bem um estalo de gênio – disléxico.
Jose Carlos Brandão




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