Se um dia eu perder a minha alma,
não a procurem no céu,
nem tão pouco no inferno.
Procurem minha alma nas letras
lá, com certeza,
ela estará encurralada
entre os versos
que um dia transformei em poesia.
Se um dia eu perder a poesia,
é porque perdi a vida.
E com ela,
a minha alma.
Perdi o cheiro das fragrâncias.
Não sinto mais as rosas.
E não faço mais prosas.
Se um dia eu perder o poder do olfato,
perdi também o tato.
Não encontro mais o jardim,
nem o jasmim.
Se um dia eu perder
o poder de olhar,
é sinal de que perdi
o sentido de enxergar.
Estarei cega para sentir
o sol nascendo dentro de mim.
Se um dia eu não conseguir encontrar o amor
dentro do ódio,
é sinal de que perdi
a sensibilidade de ver
a poesia na humanidade.
Alguma coisa terá morrido em mim.
Creio que, então,
as palavras terão me deixado.
Perdi a delicadeza
de escutar o som das letras,
o toque dos cravos,
a leveza da vida.
Mas...
Se um dia você abrir um livro
e sentir que ele respira,
Se um verso te tocar
como quem beija a alma,
Se uma palavra se deitar nos seus olhos
como quem volta pra casa
Então me encontrará ali.
Porque mesmo que eu parta,
estarei viva
na poesia que deixei
O livro será meu
E se a alma é feita de palavras,
a minha,
sempre será poema.
Autora: Isabel van Gurp
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